quinta-feira, 3 de junho de 2010

Forquilha (Uma homenagem)

Seja mal-vindo:
Essas são as nossas esquinas: pérfidas, chuvosas.
Salpicadas da gordura cansada do cotidiano.
Os que param por um instante são apenas homens sem rosto,
Sem dinheiro, sem alma, jugulares.
Traficamos, morremos, fugimos da polícia.
Temos apenas fragmentos do que eram nossas vidas e nossa humanidade.
As vans lotadas confessam a pobreza,
As mercearias inúteis envoltas na nuvem de poeira.
A feira repleta de ratos,
As padarias inevitáveis,
O célebre e famigerado retorno.
Pois não há história coerente a ser contada neste lugar do mundo.
Apenas o nojo.

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(Dedico este post ao bairro no qual vivi toda a minha vida, ao bairro que não tem nada demais, ao bairro que fede a esgoto parado, a fumaça de ônibus, ao bairro que não me ensinou nada, ao bairro que extrapola o bom senso, ao bairro mais impressionante de mundo, ao bairro mais terrível do mundo, ao bairro cujos acontecimentos banais se transformam em novos 11 de setembro, novas quedas do Muro de Berlim em minha mente, ao bairro que é o meu bairro. A Forquilha é o centro do mundo.)

Um comentário:

  1. O retorno de acesso aos antigos (ou ex-) Girafão ou Mateus também levam a pecha de sujo e de nojento. Mas,circulam transeuntes num frenesi em busca de tantos mariscos naquela calçada que vai subindo pra Hemomar ou não sei pra onde, pode ser que também leve ao infinito.
    E eu que imaginava que a Jordoa era o centro do mundo. Ou ainda, o próprio João Paulo, com sua cara de mercado indiano a céu aberto, com suas "vacas" sagradas capitalizadas ou descapitalizadas, fica ao critério do freguês.
    Quer aprender mais sobre a Ilha do Amor, leia o blog, usufrua desta linguagem terna, mordaz, instigante e pertinente, que nossos escritores urgem em extravasar aqui. Au revoir...

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