terça-feira, 24 de agosto de 2010

Canto de amor a Hellen, a mais sublime luz

Tive a sensação de nascer de novo algumas vezes durante aquela tarde. ou seja, devo ter morrido tantas outras. Hellen me chamava pelo nome, eu observava obcecado a luz do sol que impactava-se estupidamente contra a parede branca e os telhados, meu sangue fluía com inesperada rapidez dentro de cada veia, meus cabelos estavam encharcados em suor.
-Luciano, sobreviva, pelo amor de Deus - foi o que Helen disse. Ela me tinha entre os braços.
Meu deus, onde estaria Fa...
Eu não aguento mais.
Então as imagens começaram: revi algumas pessoas. poucas mulheres, poucos amigos. revi os entardeceres de décadas atrás, quando havia a possibilidade do amor, da qual eu não esquecia e não tinha medo. revi certos olhos infinitamente febris (os teus). revi minha infância, minha mãe, meu pai, minha irmã, meus livros de leitura medíocre, minhas roupas tão fora de moda.
pude reencontrar tudo que havia esquecido e tudo que havia me esquecido. fui jovem de novo, sem dúvida, durante os ínfimos segundos que contemplaram o delírio e a ansiedade da morte, enquanto, quase que do outro lado do oceano, Hellen chorava e clamava por mim:
-Sobreviva, Luciano, sobreviva! - suas mãos quentes, Hellen, me dão vontade de chorar.
Hellen, meu anjo em tons castanhos, eu penso em ti, nesse momento exato e vermelho, no qual meu sangue penetra o asfalto, no qual meu olhar perde o sentido. (nunca teve)
perdurarás na minha memória perdida como as flores perduram no tempo-espaço: dançando. evocarei o tesouro luminoso que há em ti, para não a escuridão não me engula.
redigirei poemas de ternura e beleza, com a tinta guache triste que é meu coração.
estarei, infelizmente, para sempre longe de ti. ou talvez perto demais.

Olhe o seu relógio, Hellen, e esqueça o que eu disse: morri no acidente.

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