domingo, 8 de agosto de 2010

Oh, baby, we...

No verão, posso assimilar as carícias do vento da tarde.
Dobrados dentro de envelopes timbrados e sujos, despachados de algum canto remoto do deserto, os mapas de mim mesmo vem bater à minha tristeza e reclamar que não é (não há) mais tempo para colóquios vulgares.
"Sim, mapas", eu respondi, "meu pensamento é coeso, meus princípios também, meus métodos escapam um pouco aos padrões, mas nada que represente perigo ou possibilidade de tragédia".
"Não, meu jovem", os mapas retrucaram, " a questão não é o método, ou os princípios, ou a faca e o queijo na mão; a questão é você, um carinha indeciso de 21 anos, como um todo. Preste bem atenção ao que vos falo: a vida não é tão curta quanto parece, mas também não é tão longa, ou seja, a vida está no meio do caminho entre o milésimo de segundo e a eternidade, entre o tudo e o nada; e sendo que a vida em si é um caminho, encontramos aqui um caminho dentro do outro, e sendo que as cidades modernas são labirintos fatais, temos mais caminhos uns dentro dos outros..."
"Não quero ouvir suas baboseiras filosóficas, ó mapas. Quero apenas viver, que não significa não morrer. Significa mais".
Nesse exato instante, os mapas sofreram aquilo que se chama de combustão espontânea, fenômeno comumente observado quando alguém molha alguma coisa com álcool e depois acende descuidadamente um fósforo e arremessa encima do algo, acidentalmente.

Um comentário:

  1. "a vida não é tão curta quanto parece, mas também não é tão longa, ou seja, a vida está no meio do caminho entre o milésimo de segundo e a eternidade, entre o tudo e o nada; e sendo que a vida em si é um caminho, encontramos aqui um caminho dentro do outro, e sendo que as cidades modernas são labirintos fatais, temos mais caminhos uns dentro dos outros..."
    Esses mapas tem constatações deveras relevantes!

    ResponderExcluir