sábado, 31 de julho de 2010

Obra completa de Fabrício B

A editora Porra Nenhuma, sempre preocupada com a qualidade gráfica, editorial e artística de seus lançamentos, assim como com a valorização da literatura e a cultura nacionais, resolveu editar a obra completa deste titã do pensamento barato e trocadilhesco que é o maranhense Fabrício Brandaus, ou simplesmente Fabrício B, autor de epopéias plenas em erudição banal e mulecagem como "Dias Infinitos em Pedreiras" (lançado nos Estados Unidos como "Infinite days of Pedreiras city") e o romance semi-autobiográfico de 945 páginas intitulado "Vida, morte e desencanto de Tião Macalé" (nos EUA e na Inglaterra como "The real life, the fake death and the mustache of Tião Macalé - the greatest War player that São Bernardo neighborhood have ever seen").
A temática das obras de Fabrício B, que atualmente vive exilado em Barra do Corda, por motivos políticos e por imposições do Sistema, gira em torno, principalmente, da infância pobre em Pedreiras, quando jogava bola na rua e empinava pipa e organizava rinhas de galo, e da obsessão pela distância. O lirismo, o improviso, a insolência, a vida de funcionário público e o Flamengo campeão mundial de 1981 são outras constantes em suas obras, que recentemente foram indicadas ao New Orleans Best Stucked-Tongue of the Year, que é um prêmio anual para os melhores trava-línguas criados por escritores ou por escritores bêbados mesmo.
Casado, policial e pai de alguns primos (como os co-autores deste blog - Victor e Luciano), Fabrìcio é, acima de tudo, um escritor que não foge da responsabilidade e denuncia o caos do mundo e a saudade que mata a todos nós. Quando perguntado sobre a vocação para a arte da escrita, ele responde: 'Cara, há alguns anos atrás, quando eu jogava Wining Eleven o dia todo com meus 412 primos e fazia gols virtuais com Zenden e Morientes, a única coisa que me vinha à mente era: um dia serei escritor' (...)."
(Texto na íntegra no site:
O livro "Obra Completa de Fabrício B" já pode ser encontrado em todos os botecos e lan houses do Brasil e da Sérvia (pois o contrabando pra lá é mais fácil) pelo valor de R$12,00. Toda a renda arrecadada com a venda dos livros será revertida em investimentos na Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão e no 2ºDP de Barra do Corda).

Cacto

Preciso tirar umas dúvidas.
Eu, em meu ar quase sempre distante, abstrato, auto-referente, parecerei um cacto?
Quando me olho num espelho qualquer, sinto-me absolutamente longe, desértico.
Não tenho espinhos, acho, mas as características restantes batem:
sozinho no meio do tempo e dos substantivos,
permeado por significados inapeláveis
com o coração repleto de infiltrações e fissuras
com o medo de sempre estar fugindo, mesmo estando parado.
Minha voz é de cacto, minha risada também (ou de crocodilo), minha barba é de cacto, meus cabelos (cada vez mais raros) indicam a cacticidade.
Sou sim.
Só resta saber se eu sou o mais humano dos cactos ou o mais cacto dos humanos.
Uma seta indiscreta indica o caminho
Uma seta secreta
Um carinho secreto... e esperado... mas retesado...
Desesperado, um amor deixado de lado, achado distante, amargurado.
Um amor recolhido acanhado como cânhamo prensado
Um amor no passado
Que deixa de ser ...
E se torna ...
Se transforma em um nada qualquer...
Apenas um vazio insistente no coração.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Eu, o homem que não viaja

Meus amigos viajam e mandam de lá fotos fantásticas em poses tipicamente turistescas. Sorridentes, alegres, radiantes por estarem em locais diferentes, ou chiques, ou inusutados, ou mais frios, ou mais quentes, etc. Minha amiga Alda, por exemplo, está em Nova York, rodeando a Estátua da Liberdade e dando cambalhotas na Times Square. Maressa (que saudade dela...) está em São Paulo inalando poluição e engarrafamentos, só pra sentir o prazer que é não ser paulistano. Todos viajaram, todos estão por aí, em coordenadas infinitas, tirando fotos desfocadas, ou tortas ou com o dedo por cima da lente, ingerindo alimentos exóticos e até mesmo impróprios.
E eu?
Eu sou o cara que está vivendo a vida de sempre e, infelizmente, se dá por contente com isso.(Não, não é uma reclamação, é um ato-de-fé). Será vergonhoso não sentir vontade em viajar, será vergonhoso ficar para sempre onde se está, em sua vida e ambiente limitados como uma gaveta? Talvez.
Mas é assim: eu sou o cara que nasceu pra ficar aqui.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Lúcida, irônica e suave como o perplexo champagne

Se eu pudesse, Mariana, e fosse ousado o suficiente, nunca mais tomaria banho, só pra ter cravado em mim, para sempre, teu infinito perfume.
Cheiras, anjo impuro, a perigo e ao fogo vespertino. Em ti, visualizo, inquieto,
a gula imprevisível da madrugada, o sonho impróprio, a ironia desvairada,
a própria morte, o solo de clarineta que eu nunca ouvi e que é a transcrição
exata de meus desejos esvaziados. Em ti, obviamente,
pululam as faces femininas, as dores do existir e, talvez, o amor.
Não, o amor não. (apenas secas e remotas possibilidades).

Escolhi a noite errada pra comprovar os pretextos,
mas teu perfume nunca, nunca morrerá.
Eu penso em ti, e a probabilidade enorme de nunca mais te ver faz de mim um homem exausto,
sem esperanças maiores na vida, a não ser perder a sanidade (já ínfima).




*Sim, Mariana, se você um dia ler esse post, saiba que eu o fiz pra você, de verdade. Fatalmente, há muitas Marianas no mundo, mas a que me interessa é apenas um sonho particular, com seu respectivo perfume. Provavelmente, ela será como a mulher - Ulrica - que Borges possuiu uma vez na vida e nunca mais, em York. Tu, Mariana, és e serás minha Ulrica, eternamente, guardada em meu íngreme espírito como um peixe tímido entre corais, ou como o sangue que circula dentro de nós e ninguém vê; circularás dentro de mim.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A bicicleta

E dali vi que era necessário redescobrir o mundo,
muito mais que cavernas e leões vorazes
nem Aristóteles, nem Platão..
Imagine Priscila...
Num mundo quadrado, nossas mentes estáticas repousavam, neurônios batiam-se incontrolavelmente no ringue de impulsos nervosos .
E com um golpe fatal criei o equilíbrio do mundo, amarrei dois universos com uma corrente e dei o poder aquele que o Criador ''tirou'' do barro... o homem .
e com os pés descalços...o homem-barro move a criação... A bicicleta.


*Comentário: Pequeno texto criado com auxílio da imagem central do blog.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Scuba

eu estava dentro do aquário, me passando por aqueles bonequinhos de mergulhador. alguns suspeitaram que era eu e tentaram me capturar, mas lançei mão do estratagema de me fingir de morto (na verdade, a vida toda tenho me fingido de morto) e consegui escapar. os peixes me olham curiosos.
a vida se resume a ficar aqui, numa posição estranha, esperando sabe-se lá o quê. talvez um Godot aquático. eu observo o curioso mecanismo que realiza o indispensável processo de oxigenação da água, e penso: "Se eu estivesse no deserto, não precisaria de maquininhas pra oxigenação e muito menos de peixes me observando. precisaria apenas de mim mesmo". meus donos, que eu não sei quem são, parecem-se muito com escritores fracassados: um casal triste, que assiste televisão apenas na tentativa de se banalizar e morrer em paz, cagando pras angústias heideggerianas sobre a morte e sei lá o quê mais. foda-se heidegger.
eles vêm de vez em quando alimentar os peixinhos com ração. às vezes esquecem e um peixinho morre. eu não rezo pelo peixinho, acho que eles não tem céu. outro dia, um peixinho ficou doente, mudou de cor e caiu duro no fundo do aquário.
Eu sou um mergulhador de brinquedo que passa os dias tentando ser eu mesmo, ou muitas outras coisas banais; e minha experiência de vida me diz apenas uma coisa: "Nada, mergulhador, nada", mas aí já foram três coisas, além de uma ambiguidade insuportável.

domingo, 18 de julho de 2010

Bem ao meu estilo... (Da série: Trechos Fatais)

"Pós-moderno: as identidades, que compunham as paisagens sociais 'lá fora', e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as necessidades objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado das mudanças estruturais e institucionais o próprio processo de identificação tornou-se mais provisório, variável e problemático. O sujeito pós-moderno não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente. O sujeito assume identidades em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um Eu coerente. À medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por um multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar, ao menos temporariamente".


Este excerto pertence a um livro da dra. Erane Paladino, psicanalista brasileira extremamente inteligente que eu tive a oportunidade de ler (mais uma metonímia!), fazendo referência à ideia de sociedade pós-moderna elaborada pelo sociólogo Stuart Hall, que eu não tenho ideia de quem seja. Agradeço ao meu curso de Psicologia por me propiciar momentos de pura abstração, puro lirismo e pura filosofice.

Como eu sempre digo, somos todos atores. E ainda que nem todos sejam, só o fato de eu ser já significa alguma coisa, ou não significa nada.

sábado, 17 de julho de 2010

Careca, mas ordinário

Ao completar 21 anos, tenho certeza de três coisas:
1- Estou ficando mais velho.
2- Fico mais besta a cada ano que passa (o mundo me deixa estupefato).
3- Não há tempo a perder.
4- Preciso aprender a contar.
5- Dinheiro não resolve nada, apenas deixa a gente doido.
6- Morrer é uma questão de tempo, levando em conta a média de idade do brasileiro maranhense residente na Forquilha, que é de 35,8 anos, pois aqui sempre podemos levar um tiro ou ser atropelados na avenida.
7-Estudar também é uma questão de tempo. Nunca há tempo pra estudar.
8- Desde que emagreci, sou uma pessoa mais magra.
9-Amigos são pessoas com as quais a gente sempre pode contar: 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14, - e eles não se cansam.(olha! aprendi a contar).
10 - Viver é uma coisa legal pra cassete.
11- A gente nunca é feliz o suficiente, mas quem disse que o suficiente é indispensável?
12-Devemos estar preparados pra tudo, incluindo nós mesmos.

Oh, apesar (Auto retrato pretensioso)

Eu era o próprio astronauta infanto-juvenil-pseudo-dipsomaníaco.
Eu amava a mulher errada, numa tentativa de amá-la o maior número de vezes possível, mas ela escorria de minhas mãos como manteiga Qualy light sem gorduras trans derretida.
Eu ainda lerei Freud fumando um charuto azedo (metonímias vulgares)...
Eu cheguei às 5:30 da manhã.
Eu nunca tive uma namorada, apesar de achar que sim, mesmo estando enganado.
Eu estou me transformando em meu pai, precocemente, logo aos 21 anos de idade.
Je suis Luciano Leite da Silva, um crápula até que simpático, com indícios tristes e gritantes de calvície. Tenho vivido em bairros que fedem a mijo e absurdo. Tenho sido incompreendido em metade das minhas palavras, e a outra metade eu esqueci e entendo que a estética da não-estética é o prato do dia, junto com mocotó e farinha de puba, levando em conta que eu sou Nietzsche, Jesus, Tim Maia e Seu Madruga ao mesmo tempo.
Tenho saudades dos áureos tempos em que fugíamos da chuva só nós dois, e éramos atropelados por velozes automóveis na Avenida 4 deserta, sob a luz dos postes minimalistas, em frente à Extrafarma fechada. Meu amor, teu nome era Clarisse, como sempre, e teu nome era sempre novo.
Oh, apesar de estar contigo, eu não sou eu.

domingo, 11 de julho de 2010

Post sobre a necessidade doentia de fazer um post.

Preciso fazer uma postagem, o quanto antes.
Senão vou ficar doente, meus cabelos vão cair, minhas unhas ficarão amareladas, meus sonhos terão a textura de carne-seca, minhas notas diminuirão, minha voz desafinará.
Escrever é como ser alcoólatra, só que sem álcool e sem copo ou garrafa: é só você, as palavras e o vício.
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(Dedico este post a ela, como sempre).

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Elegia II

Acordei no meio da vida, com fome.
Não de ti, justiça conceitual,mas de
alimento sólido, o pão social,
a mais comum e previsível das fomes.
Eu podia pressentir
o estômago de todos os famintos,
mortos e esqualidamente precisos.
Desaprendi a fazer poemas, anjo fujido:
faço guerra.

Elegia I

Acordei no meio da noite,
com sede. Não de ti, Heloísa,
mas de água líquida,
a mais comum e previsível das sedes.
Eu podia pressentir a mim mesmo
fingindo ser eu num quarto escuro e solitário,
como o instável fogo,
feliz e morto.
Desaprendi a fazer poemas, anjo fujido:
faço a mim mesmo.