sexta-feira, 23 de julho de 2010

Lúcida, irônica e suave como o perplexo champagne

Se eu pudesse, Mariana, e fosse ousado o suficiente, nunca mais tomaria banho, só pra ter cravado em mim, para sempre, teu infinito perfume.
Cheiras, anjo impuro, a perigo e ao fogo vespertino. Em ti, visualizo, inquieto,
a gula imprevisível da madrugada, o sonho impróprio, a ironia desvairada,
a própria morte, o solo de clarineta que eu nunca ouvi e que é a transcrição
exata de meus desejos esvaziados. Em ti, obviamente,
pululam as faces femininas, as dores do existir e, talvez, o amor.
Não, o amor não. (apenas secas e remotas possibilidades).

Escolhi a noite errada pra comprovar os pretextos,
mas teu perfume nunca, nunca morrerá.
Eu penso em ti, e a probabilidade enorme de nunca mais te ver faz de mim um homem exausto,
sem esperanças maiores na vida, a não ser perder a sanidade (já ínfima).




*Sim, Mariana, se você um dia ler esse post, saiba que eu o fiz pra você, de verdade. Fatalmente, há muitas Marianas no mundo, mas a que me interessa é apenas um sonho particular, com seu respectivo perfume. Provavelmente, ela será como a mulher - Ulrica - que Borges possuiu uma vez na vida e nunca mais, em York. Tu, Mariana, és e serás minha Ulrica, eternamente, guardada em meu íngreme espírito como um peixe tímido entre corais, ou como o sangue que circula dentro de nós e ninguém vê; circularás dentro de mim.

3 comentários:

  1. "A transcrição exata de meus desejos esvaziados".
    Mulheres... os maiores delírios, desejos e satisfações da vida de um homem, vem delas.
    E que assim seja.

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  2. Luciano,
    Quanto tempo!!! Uma pessoa me falou do teu blog e eu vim conferir. Achei lindo o "cheiras, anjo impura, a perigo e fogo vespertino". À propósito da Ulrica do Borges, tu já leste um conto sobre ela na obra (se não me engano) "Livro de areia", em que o narrador-protagonista (alter-ego do próprio Borges?)conta como, após um passeio pela neve e umas quantas citações de Schopenhauer, ele possui, uma única vez, a sua amada Ulrica? Me lembrei do conto na hora em que li teu texto, porque, além da referência explícita, há nele as mesmas reverberações de encanto melancólico ou de melancolia encantodora (como preferirem).
    Hortência (aquela amante da literatura do Borges, a quem certa vez você emprestou um dossiê sobre os muitos mundos borgeanos)

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  3. Nossa, que lindo! Fiquei encantada com seu texto, belo demais!
    Tomara que essa "Mariana" saiba um dia o quão importante ela é para você.

    Perfeito!

    beijos de uma das muitas Marianas deste mundããão ^^

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