terça-feira, 24 de agosto de 2010

Canto de amor a Hellen, a mais sublime luz

Tive a sensação de nascer de novo algumas vezes durante aquela tarde. ou seja, devo ter morrido tantas outras. Hellen me chamava pelo nome, eu observava obcecado a luz do sol que impactava-se estupidamente contra a parede branca e os telhados, meu sangue fluía com inesperada rapidez dentro de cada veia, meus cabelos estavam encharcados em suor.
-Luciano, sobreviva, pelo amor de Deus - foi o que Helen disse. Ela me tinha entre os braços.
Meu deus, onde estaria Fa...
Eu não aguento mais.
Então as imagens começaram: revi algumas pessoas. poucas mulheres, poucos amigos. revi os entardeceres de décadas atrás, quando havia a possibilidade do amor, da qual eu não esquecia e não tinha medo. revi certos olhos infinitamente febris (os teus). revi minha infância, minha mãe, meu pai, minha irmã, meus livros de leitura medíocre, minhas roupas tão fora de moda.
pude reencontrar tudo que havia esquecido e tudo que havia me esquecido. fui jovem de novo, sem dúvida, durante os ínfimos segundos que contemplaram o delírio e a ansiedade da morte, enquanto, quase que do outro lado do oceano, Hellen chorava e clamava por mim:
-Sobreviva, Luciano, sobreviva! - suas mãos quentes, Hellen, me dão vontade de chorar.
Hellen, meu anjo em tons castanhos, eu penso em ti, nesse momento exato e vermelho, no qual meu sangue penetra o asfalto, no qual meu olhar perde o sentido. (nunca teve)
perdurarás na minha memória perdida como as flores perduram no tempo-espaço: dançando. evocarei o tesouro luminoso que há em ti, para não a escuridão não me engula.
redigirei poemas de ternura e beleza, com a tinta guache triste que é meu coração.
estarei, infelizmente, para sempre longe de ti. ou talvez perto demais.

Olhe o seu relógio, Hellen, e esqueça o que eu disse: morri no acidente.

domingo, 22 de agosto de 2010

8 e Meio

inesquecível, e mortal.
sonhei contigo, Evelyn, dependurado eu numa teia,
flutuando tu por sobre as ondas.
sei de algo que me mata e recordo, humildemente,
o fantasma nu que é a fantasia preferida de todos.
ei, Evelyn, vamos fugir, vamos pular da cachoeira, vamos comer chocolate até que nossa glicemia exploda, vamos conferir as estrelas que não brilham para nós, vamos catar piolhos um no outro, vamos ouvir música inútil, vamos desaprender os bons modos, vamos correr a maratona de Nova York, vamos nos foder, vamos listar as convenções a serem quebradas, vamos emagrecer, vamos ter um filho, vamos falar bobagem, vamos administrar nosso próprio negócio e depois falir de propósito, vamos mergulhar.

mergulhar na bendita e sonhada poesia sem fim.
merda, Evelyn, alguém me chama do outro lado.
eu sou apenas um esboço tolo de meus símbolos verdadeiros, Evelyn,
Evelyn, eu te amo e choro e eles têm pena de mim.
Evelyn, teu nome é fraco e doce como a vida,
como a necessidade de fugir, como a tristeza,
como o tempo e sua metódica ferida;

Era feliz o tempo em que verdejava a relva sob nossos pés.
Hoje, eu confiro no dedo os dias que faltam.

sábado, 21 de agosto de 2010

Sorriu

Estér viajava.
Eu, no aeroporto, despedindo-me dela, sempre pela derradeira vez,
Sucumbia à urgência das lágrimas, como um símbolo vazio.
Ester, sempre bela, então, sorria como um anjo que acabou de acordar
Da sesta habitual.
Eu amava Estér, com o peso de meu coração feito de vidro fosco.
Eu amava Estér, e seus cabelos de luz.
Estér, cujos olhos estão longe.

domingo, 8 de agosto de 2010

Estarás em Petersburgo, à beira do Nevski, a me beijar

A poesia me faz falta.
Todas as palavras metamorfoseiam-se em vidro, em aço,
e esquecem que a música e a dança lhes pertencem.
Eu estou encharcado de vozes e gritos noturnos,
e das cores de meu sonho nublado.
Cantarei com ela no topo das montanhas
o canto da sublime solidão.
Não me acostumei ainda, mas é hora.
Despedaçarei até a indivisibilidade
as elaboradas distâncias entre mim e Heloísa.
A feiúra urgente que o mundo carrega nos braços não atingirá
a aura de delicadeza que construí para minha amada.
Estará ela em Petersburgo, à beira do Nevski, a me beijar?
Explorarei como louco os infinitos ângulos que a rodeiam e

(daqui para frente)
esquecerei que sou eu.

Oh, baby, we...

No verão, posso assimilar as carícias do vento da tarde.
Dobrados dentro de envelopes timbrados e sujos, despachados de algum canto remoto do deserto, os mapas de mim mesmo vem bater à minha tristeza e reclamar que não é (não há) mais tempo para colóquios vulgares.
"Sim, mapas", eu respondi, "meu pensamento é coeso, meus princípios também, meus métodos escapam um pouco aos padrões, mas nada que represente perigo ou possibilidade de tragédia".
"Não, meu jovem", os mapas retrucaram, " a questão não é o método, ou os princípios, ou a faca e o queijo na mão; a questão é você, um carinha indeciso de 21 anos, como um todo. Preste bem atenção ao que vos falo: a vida não é tão curta quanto parece, mas também não é tão longa, ou seja, a vida está no meio do caminho entre o milésimo de segundo e a eternidade, entre o tudo e o nada; e sendo que a vida em si é um caminho, encontramos aqui um caminho dentro do outro, e sendo que as cidades modernas são labirintos fatais, temos mais caminhos uns dentro dos outros..."
"Não quero ouvir suas baboseiras filosóficas, ó mapas. Quero apenas viver, que não significa não morrer. Significa mais".
Nesse exato instante, os mapas sofreram aquilo que se chama de combustão espontânea, fenômeno comumente observado quando alguém molha alguma coisa com álcool e depois acende descuidadamente um fósforo e arremessa encima do algo, acidentalmente.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ode seca, pétrea

Meus anseios se resumem à transitoriedade medíocre dos fatos:
não é poesia, apenas a vida boêmia, a desordem, e as garrafas estilhaçadas contra a parede do bom-senso. Alguns deles se tornaram meus amigos, e outros eram inimigos tão fiéis que não valia a pena deixá-los viver mais um pouco. Eu, nesse exato momento, estou sujo de sangue, esperando pela vida nova que a todos é prometida todo santo dia, nos comerciais de TV, nos catálogos da Avon, ou Romannel, ou sei lá o quê que custa algumas parcelas de 39,90. Cansei dos hamburguers multinacionalmente suculentos. Cansei de lutar pela paz mundial, cansei do discurso ambientalista, cansei da democracia que eu não fiz. Amei apenas uma mulher na vida, mas ela nunca existiu fora dos limites do sonho e do delírio. Tive alguns empregos, mas eles ocuparam apenas o meu corpo; o espírito voava em outras paragens, perdido; empreguei métodos eficazes para alcançar a felicidade, mas ela é uma bandeira hasteada ao longe, tremulando ao vento do acaso. Hoje, aos 39 anos e alguns desperdícios, sou um homem desiludido e desiludido.
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Postagem dedicada às pessoas que não entenderem esta postagem.

sábado, 31 de julho de 2010

Obra completa de Fabrício B

A editora Porra Nenhuma, sempre preocupada com a qualidade gráfica, editorial e artística de seus lançamentos, assim como com a valorização da literatura e a cultura nacionais, resolveu editar a obra completa deste titã do pensamento barato e trocadilhesco que é o maranhense Fabrício Brandaus, ou simplesmente Fabrício B, autor de epopéias plenas em erudição banal e mulecagem como "Dias Infinitos em Pedreiras" (lançado nos Estados Unidos como "Infinite days of Pedreiras city") e o romance semi-autobiográfico de 945 páginas intitulado "Vida, morte e desencanto de Tião Macalé" (nos EUA e na Inglaterra como "The real life, the fake death and the mustache of Tião Macalé - the greatest War player that São Bernardo neighborhood have ever seen").
A temática das obras de Fabrício B, que atualmente vive exilado em Barra do Corda, por motivos políticos e por imposições do Sistema, gira em torno, principalmente, da infância pobre em Pedreiras, quando jogava bola na rua e empinava pipa e organizava rinhas de galo, e da obsessão pela distância. O lirismo, o improviso, a insolência, a vida de funcionário público e o Flamengo campeão mundial de 1981 são outras constantes em suas obras, que recentemente foram indicadas ao New Orleans Best Stucked-Tongue of the Year, que é um prêmio anual para os melhores trava-línguas criados por escritores ou por escritores bêbados mesmo.
Casado, policial e pai de alguns primos (como os co-autores deste blog - Victor e Luciano), Fabrìcio é, acima de tudo, um escritor que não foge da responsabilidade e denuncia o caos do mundo e a saudade que mata a todos nós. Quando perguntado sobre a vocação para a arte da escrita, ele responde: 'Cara, há alguns anos atrás, quando eu jogava Wining Eleven o dia todo com meus 412 primos e fazia gols virtuais com Zenden e Morientes, a única coisa que me vinha à mente era: um dia serei escritor' (...)."
(Texto na íntegra no site:
O livro "Obra Completa de Fabrício B" já pode ser encontrado em todos os botecos e lan houses do Brasil e da Sérvia (pois o contrabando pra lá é mais fácil) pelo valor de R$12,00. Toda a renda arrecadada com a venda dos livros será revertida em investimentos na Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão e no 2ºDP de Barra do Corda).

Cacto

Preciso tirar umas dúvidas.
Eu, em meu ar quase sempre distante, abstrato, auto-referente, parecerei um cacto?
Quando me olho num espelho qualquer, sinto-me absolutamente longe, desértico.
Não tenho espinhos, acho, mas as características restantes batem:
sozinho no meio do tempo e dos substantivos,
permeado por significados inapeláveis
com o coração repleto de infiltrações e fissuras
com o medo de sempre estar fugindo, mesmo estando parado.
Minha voz é de cacto, minha risada também (ou de crocodilo), minha barba é de cacto, meus cabelos (cada vez mais raros) indicam a cacticidade.
Sou sim.
Só resta saber se eu sou o mais humano dos cactos ou o mais cacto dos humanos.
Uma seta indiscreta indica o caminho
Uma seta secreta
Um carinho secreto... e esperado... mas retesado...
Desesperado, um amor deixado de lado, achado distante, amargurado.
Um amor recolhido acanhado como cânhamo prensado
Um amor no passado
Que deixa de ser ...
E se torna ...
Se transforma em um nada qualquer...
Apenas um vazio insistente no coração.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Eu, o homem que não viaja

Meus amigos viajam e mandam de lá fotos fantásticas em poses tipicamente turistescas. Sorridentes, alegres, radiantes por estarem em locais diferentes, ou chiques, ou inusutados, ou mais frios, ou mais quentes, etc. Minha amiga Alda, por exemplo, está em Nova York, rodeando a Estátua da Liberdade e dando cambalhotas na Times Square. Maressa (que saudade dela...) está em São Paulo inalando poluição e engarrafamentos, só pra sentir o prazer que é não ser paulistano. Todos viajaram, todos estão por aí, em coordenadas infinitas, tirando fotos desfocadas, ou tortas ou com o dedo por cima da lente, ingerindo alimentos exóticos e até mesmo impróprios.
E eu?
Eu sou o cara que está vivendo a vida de sempre e, infelizmente, se dá por contente com isso.(Não, não é uma reclamação, é um ato-de-fé). Será vergonhoso não sentir vontade em viajar, será vergonhoso ficar para sempre onde se está, em sua vida e ambiente limitados como uma gaveta? Talvez.
Mas é assim: eu sou o cara que nasceu pra ficar aqui.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Lúcida, irônica e suave como o perplexo champagne

Se eu pudesse, Mariana, e fosse ousado o suficiente, nunca mais tomaria banho, só pra ter cravado em mim, para sempre, teu infinito perfume.
Cheiras, anjo impuro, a perigo e ao fogo vespertino. Em ti, visualizo, inquieto,
a gula imprevisível da madrugada, o sonho impróprio, a ironia desvairada,
a própria morte, o solo de clarineta que eu nunca ouvi e que é a transcrição
exata de meus desejos esvaziados. Em ti, obviamente,
pululam as faces femininas, as dores do existir e, talvez, o amor.
Não, o amor não. (apenas secas e remotas possibilidades).

Escolhi a noite errada pra comprovar os pretextos,
mas teu perfume nunca, nunca morrerá.
Eu penso em ti, e a probabilidade enorme de nunca mais te ver faz de mim um homem exausto,
sem esperanças maiores na vida, a não ser perder a sanidade (já ínfima).




*Sim, Mariana, se você um dia ler esse post, saiba que eu o fiz pra você, de verdade. Fatalmente, há muitas Marianas no mundo, mas a que me interessa é apenas um sonho particular, com seu respectivo perfume. Provavelmente, ela será como a mulher - Ulrica - que Borges possuiu uma vez na vida e nunca mais, em York. Tu, Mariana, és e serás minha Ulrica, eternamente, guardada em meu íngreme espírito como um peixe tímido entre corais, ou como o sangue que circula dentro de nós e ninguém vê; circularás dentro de mim.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A bicicleta

E dali vi que era necessário redescobrir o mundo,
muito mais que cavernas e leões vorazes
nem Aristóteles, nem Platão..
Imagine Priscila...
Num mundo quadrado, nossas mentes estáticas repousavam, neurônios batiam-se incontrolavelmente no ringue de impulsos nervosos .
E com um golpe fatal criei o equilíbrio do mundo, amarrei dois universos com uma corrente e dei o poder aquele que o Criador ''tirou'' do barro... o homem .
e com os pés descalços...o homem-barro move a criação... A bicicleta.


*Comentário: Pequeno texto criado com auxílio da imagem central do blog.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Scuba

eu estava dentro do aquário, me passando por aqueles bonequinhos de mergulhador. alguns suspeitaram que era eu e tentaram me capturar, mas lançei mão do estratagema de me fingir de morto (na verdade, a vida toda tenho me fingido de morto) e consegui escapar. os peixes me olham curiosos.
a vida se resume a ficar aqui, numa posição estranha, esperando sabe-se lá o quê. talvez um Godot aquático. eu observo o curioso mecanismo que realiza o indispensável processo de oxigenação da água, e penso: "Se eu estivesse no deserto, não precisaria de maquininhas pra oxigenação e muito menos de peixes me observando. precisaria apenas de mim mesmo". meus donos, que eu não sei quem são, parecem-se muito com escritores fracassados: um casal triste, que assiste televisão apenas na tentativa de se banalizar e morrer em paz, cagando pras angústias heideggerianas sobre a morte e sei lá o quê mais. foda-se heidegger.
eles vêm de vez em quando alimentar os peixinhos com ração. às vezes esquecem e um peixinho morre. eu não rezo pelo peixinho, acho que eles não tem céu. outro dia, um peixinho ficou doente, mudou de cor e caiu duro no fundo do aquário.
Eu sou um mergulhador de brinquedo que passa os dias tentando ser eu mesmo, ou muitas outras coisas banais; e minha experiência de vida me diz apenas uma coisa: "Nada, mergulhador, nada", mas aí já foram três coisas, além de uma ambiguidade insuportável.

domingo, 18 de julho de 2010

Bem ao meu estilo... (Da série: Trechos Fatais)

"Pós-moderno: as identidades, que compunham as paisagens sociais 'lá fora', e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as necessidades objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado das mudanças estruturais e institucionais o próprio processo de identificação tornou-se mais provisório, variável e problemático. O sujeito pós-moderno não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente. O sujeito assume identidades em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um Eu coerente. À medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por um multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar, ao menos temporariamente".


Este excerto pertence a um livro da dra. Erane Paladino, psicanalista brasileira extremamente inteligente que eu tive a oportunidade de ler (mais uma metonímia!), fazendo referência à ideia de sociedade pós-moderna elaborada pelo sociólogo Stuart Hall, que eu não tenho ideia de quem seja. Agradeço ao meu curso de Psicologia por me propiciar momentos de pura abstração, puro lirismo e pura filosofice.

Como eu sempre digo, somos todos atores. E ainda que nem todos sejam, só o fato de eu ser já significa alguma coisa, ou não significa nada.

sábado, 17 de julho de 2010

Careca, mas ordinário

Ao completar 21 anos, tenho certeza de três coisas:
1- Estou ficando mais velho.
2- Fico mais besta a cada ano que passa (o mundo me deixa estupefato).
3- Não há tempo a perder.
4- Preciso aprender a contar.
5- Dinheiro não resolve nada, apenas deixa a gente doido.
6- Morrer é uma questão de tempo, levando em conta a média de idade do brasileiro maranhense residente na Forquilha, que é de 35,8 anos, pois aqui sempre podemos levar um tiro ou ser atropelados na avenida.
7-Estudar também é uma questão de tempo. Nunca há tempo pra estudar.
8- Desde que emagreci, sou uma pessoa mais magra.
9-Amigos são pessoas com as quais a gente sempre pode contar: 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14, - e eles não se cansam.(olha! aprendi a contar).
10 - Viver é uma coisa legal pra cassete.
11- A gente nunca é feliz o suficiente, mas quem disse que o suficiente é indispensável?
12-Devemos estar preparados pra tudo, incluindo nós mesmos.

Oh, apesar (Auto retrato pretensioso)

Eu era o próprio astronauta infanto-juvenil-pseudo-dipsomaníaco.
Eu amava a mulher errada, numa tentativa de amá-la o maior número de vezes possível, mas ela escorria de minhas mãos como manteiga Qualy light sem gorduras trans derretida.
Eu ainda lerei Freud fumando um charuto azedo (metonímias vulgares)...
Eu cheguei às 5:30 da manhã.
Eu nunca tive uma namorada, apesar de achar que sim, mesmo estando enganado.
Eu estou me transformando em meu pai, precocemente, logo aos 21 anos de idade.
Je suis Luciano Leite da Silva, um crápula até que simpático, com indícios tristes e gritantes de calvície. Tenho vivido em bairros que fedem a mijo e absurdo. Tenho sido incompreendido em metade das minhas palavras, e a outra metade eu esqueci e entendo que a estética da não-estética é o prato do dia, junto com mocotó e farinha de puba, levando em conta que eu sou Nietzsche, Jesus, Tim Maia e Seu Madruga ao mesmo tempo.
Tenho saudades dos áureos tempos em que fugíamos da chuva só nós dois, e éramos atropelados por velozes automóveis na Avenida 4 deserta, sob a luz dos postes minimalistas, em frente à Extrafarma fechada. Meu amor, teu nome era Clarisse, como sempre, e teu nome era sempre novo.
Oh, apesar de estar contigo, eu não sou eu.

domingo, 11 de julho de 2010

Post sobre a necessidade doentia de fazer um post.

Preciso fazer uma postagem, o quanto antes.
Senão vou ficar doente, meus cabelos vão cair, minhas unhas ficarão amareladas, meus sonhos terão a textura de carne-seca, minhas notas diminuirão, minha voz desafinará.
Escrever é como ser alcoólatra, só que sem álcool e sem copo ou garrafa: é só você, as palavras e o vício.
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(Dedico este post a ela, como sempre).

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Elegia II

Acordei no meio da vida, com fome.
Não de ti, justiça conceitual,mas de
alimento sólido, o pão social,
a mais comum e previsível das fomes.
Eu podia pressentir
o estômago de todos os famintos,
mortos e esqualidamente precisos.
Desaprendi a fazer poemas, anjo fujido:
faço guerra.

Elegia I

Acordei no meio da noite,
com sede. Não de ti, Heloísa,
mas de água líquida,
a mais comum e previsível das sedes.
Eu podia pressentir a mim mesmo
fingindo ser eu num quarto escuro e solitário,
como o instável fogo,
feliz e morto.
Desaprendi a fazer poemas, anjo fujido:
faço a mim mesmo.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Xiiiiiiiiiii

Efêmeros comprimidos
efervescentes que se
enervam e borbulham
num afogamento titânico,
pânico.
Caos
aos
submersos
versos
que exteriorizam
tragédias
abissais,
sais de fruta para azia
paralisia estomacal,
Nada de mais

domingo, 27 de junho de 2010

Deste lado do ringue, ele: o Homem Vazio!

temos vivido como animais: comer, dormir, copular. eu corto um pedaço de carne e levo à boca, como o careca de Matrix, e me pergunto: Cassete! isso tudo é real? pegue a minha mão, Elisa, vamos saltar os trilhos do trem sonolento que nunca passa, vamos ler o sacana do dostoiévski juntos- porra que russo fenomenal - e comer goiabada ao molho de entardecer. eu preciso de ti, com todos os meus músculos, ossos, rins, eu preciso de ti, preciso tanto que a proxima palavra eu não escreverei por puro cansaço e descaso /....................... ..... ........./, puxa vida, eu queria assistir aos teus sonhos como se assite a um filme, pra saber se eu sou personagem deles. é bem provável que não. todos os dias, quando o dia acaba, muitos seres humanos saem de seus ambientes de trabalho e voltam pra casa, carregando a cruz do cansaço e da exploração do homem pelo homem. ao chegar em casa, é quase hora de voltar para o trabalho e carregar a cruz de volta. todos os dias, bilhões de seres humanos escrevem (pensam que escrevem) a história, ao viver suas vidas banais, assistindo Jornal Nacional e depois a novela das 8. o homem é um animal que assiste telenovela e pensa que faz a história. eu sou um animal que te ama, Elisa.
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(apostei com o deserto que cairia no sono antes dele: ganhei. meu prêmio foi nunca mais acordar e viver dentro de meu próprio sonho infinito, tomando-o como realidade. agradeço a todos que prestigiam este pedaço de meu sonho chamado Abstrações, Lirismos, Filosofices, e que fazem dele o blog mais lido do mundo, considerando apenas os blogs escritos por caras que usam camisas do Arraial 2007 da Jordoa, ou que morem na rua 800 ou 900, ou 600, do Cohatrac I ou II ou III ou IV, ou que sejam policiais civis em Barra do Corda, interrogando índios bêbados que só falam tupi-guarani. valeu mesmo.)

sábado, 26 de junho de 2010

Esse post eu dedico a todas as pessoas que são atropeladas

tomemos como exemplo um cara que nem Luciano: tímido, desengonçado, usando uma camiseta amarela estampada com São João menino, do Arraial da Jordoa 2007, com a barba por fazer, suado, sem banhar desde ontem. ele lê uns livros, escreve para um veículo de entretenimento barato na internet, trabalha um pouco, faz amigos sem parar, e principalmente, pensa tolices. pensem duas vezes. sejam caridosos: ao invés de tirar suas próprias conclusões, tirem as dos outros. - plantem um livro, tenham uma árvore, escrevam um filho: três coisas que um homem deve fazer na vida. a quarta é morrer apenas quando chegar a hora. nem antes nem depois, como diz minha mãe.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Voltando pra casa

E a cada dia longe de tudo ..
Vi as palavras fugirem da mente
Os versos sem palavras rebuscadas e exaltadas
Fiquei sem voz, sem arte, sem poesia
Vi o eu-lírico sem enredo
Me vi perdido, sem chão
Dois mundos se chocam:
no fundo do poço sombras obscuras aparecem...
Mas depois tudo aquilo virou luz.
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Comentário: Obrigado a todos que pediram a minha volta, mas especialmente a Fabrício e Luciano ,que como dizia Shakespeare: " Eu aprendi que para se crescer como pessoa é preciso me cercar de gente mais inteligente do que eu".
Le sepe ne leve le pé. Ne leve le pé, ne leve le pé, perque ne quer. Le sepe ne leve le pé, ne leve le pé perque ne quer, me que chelé.

* Altamente anônimo [ao menos desconheço a mente brilhante geradora deste]

* E por que não? Cada qual no seu cada qual!

terça-feira, 22 de junho de 2010

O relojoeiro com a vista perfeita, ou sei lá o quê

Bem, Larisse, se você não acredita mais em mim, a única saída é continuar sendo o que eu sempre tentei ser: um ator com múltiplos papéis. Mas como em Henrique IV, de Pirandello, a máscara estava pegada à cara, de propósito. Não sei ser o que posso ser, mas sou o tempo todo os trejeitos de um possível personagem, que grita, pula, entra e sai do cenário malfeito, conta piadas de bom e mau gosto, e morre no final. Morrer no final é tão importante quanto viver durante ou nascer no início: pois essas são as chaves da vida de quem nasceu para não ser o que é. Todos somos ficção, todos somos personagens secundários de uma peça qualquer de Shakespeare; eu mesmo, um certo Luciano Leite da Silva sou, na verdade, o "Primeiro Caçador" que surge na cena I da "Megera Domada" e fala alguma coisa sobre um Carrilhão. Sou Luciano apenas por distração, e às vezes me canso; eu, que o tempo todo luto contra os meus diretores, roteiristas e contra-regras, só consigo entender o mundo como um teatro do tamanho do mundo - cuja falência sempre tem data e hora marcadas: hoje e agora.

Em vez de fogo, fogo

Ora bolas: eu saio todos os dias pela manhã para o trabalho e volto para casa apenas à noite, quase na hora de dormir. Ou seja, passo o dia fora, à mercê dos acontecimentos cotidianos, que nos surpreendem sempre e podem causar fatalidades absurdas. Por exemplo: eu posso ser atropelado ao atravessar uma avenida qualquer, posso ser alvo de uma bala perdida, posso morrer engasgado com água mineral, um piano pode cair do alto de um prédio e me atingir, etc. Tragédias mais do que banais, sem dúvida, das quais não estou livre, eu e bilhões de seres humanos que vivem suas vidas comuns, inclusive você que lê este texto. Por isso, queria deixar claro que todos os posts que faço nesse blog são sempre, provisoriamente, o último post de minha vida, o que não deixa de ser um fato relevante. Lembro que Manuel Bandeira disse que queria que seu último poema fosse assim ou assado; o grande João Cabral se preocupava com o último sonho, ou o "sonho final", como queiram... Eu, que não passo de um projeto de mim mesmo, e não sou pernambucano, queria apenas que o meu último post fosse tão sincero (ou falacioso) quanto eu mesmo quando tento ser sincero (ou falacioso).
Ponto.
(Você acredita em mim, Larisse?)

sábado, 19 de junho de 2010

Repatriar

''Eu não sei na verdade quem eu sou, já tentei calcular o meu valor

Palhaço é um homem todo pintado de piadas!"


Letra de "O teatro mágico"



Comentário: Muita satisfação em estar de volta com duas frases que refletem o estado de espírito do velho autor Victor Hugo. Tirei férias de tudo, mas uma reunião feita nos confins das ilusões fazem minha pessoa voltar a escrever. Tem a parte do contrato que tenho que cumprir também, assinei um pré contrato que fixam meus direitos econômicos a este querido blog. O circo está montado, os 'palhaços' Victor, Luciano e Fabrício fazem a alegria do público . Em breve novos posts...que iluminarão vossas mentes.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

À noite

Era a noite das noites em São Luís - calor, vulgaridade, violência. Eu, cansado do dia de trabalho e da vida impregnada de obviedade, caminhava obliquamente por uma rua qualquer da Forquilha, mal iluminada como um prostíbulo (a vida ou a Forquilha? - tenho sempre minhas dúvidas). Eu conhecia aquela região da cidade como a palma da mão: o Bom Preço, a antiga Código Vídeo, atual Papelaria Montelo, o bares, os churrasquinhos. Tudo muito prosaico e banal, como sempre. Até que alguns homens vieram na minha direção, mal vestidos, saídos do breu que era um dos becos que desembocavam na Alarico Pacheco. Primeiro eles pediram fogo para acender os cigarros: eram muitos, 8 homens. Um deles não tinha um cicatriz na testa, os outros 5 eram mediam aproximadamente 1,40 de altura e os 4 restantes certamente eram escritores frustrados, dada a sua cara de eruditos tristes. "É foda!", um deles disse, "a gente passa a vida toda tentando conseguir uma coisa simples como fogo e um dia consegue." Ao fundo, na imagem noturna, um ônibus da linha Forquilha-Ipase (T-095) segue seu caminho, rumo ao ponto final.
E ele continuou: "O fogo é a energia pura, é puro Heráclito. Conseguimos". Não consigo me esquecer da camisa do Flamengo que um deles usava: era provavelmente o modelo da equipe campeã do Mundial de 1981, com Adílio, Zico e Tita. É isso que acontece.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Mapastral

Precisávamos parar um pouco, e manter a sanidade. Só. Eramos nós que estávamos à beira de tudo, como cães no viaduto à noite, como pedras polidas no assoalho do rio límpido. A fotografia pendurada na parede sem cor sou eu. A parede sem cor também sou eu. De fragmentos fiz a tua muralha, o teu carrosel sem eixo, tuas covardes impetrações, tudo isso abotoado com um post-it gigantesco no qual escrevi de esferográfica: "Eu não te amo, e como isso dói". Doer é um verbo cujas conjugações todos conhecem. Então, querida, as fissuras do tempo-espaço irrompem à tua presença, ao teu paladar, gemendo e chorando neste baile de lágrimas, de fragmentos e fragmentos e mais fragmentos e mais fragmentos de fragmentos de fragmentos e chove sem haver nuvens no labirinto chamado democracia - peço erros estatísticos, peço uma pratada de macarrão, peço a porcaria da folha de papel na qual grafo sem parar as asneiras puras como flores antes que alguém as arranque do campo.

domingo, 13 de junho de 2010

II

...No instante seguinte se apegava a pensamentos detestáveis que vinham a sua mente madrugada adentro, sempre que apagavas as luzes. Por que literatura nacional não tem tantas palavras estanhas enquanto os estrangeiros, quando traduzidos ficam cheios delas?: Oblongo, empertigava-se, patusca, rebutalhos, súcubus. E mais uma vez lembrava-se dela: a dilaceradora, era assim que a chamava. Teria sido um sonho que acabara mal [dormir por cima do braço sempre lhe causava pesadelos assim]. Não importava mais. Resolvera ser diferente, ser melhor. Queria se tornar romântico sem ser piegas [que palavra para ser dita!?]: rimas fáceis e sonoridades: quem, realmente, se importa com isso. O amor tece dores, foi o que pensou...
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*Texto de Fabrício B, como complemento ao texto "I".

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mudanças

Vulcão
furacão
cães de guarda
guardas armados
armas engatilhadas
mas
o mundo pode mudar de lugar
pode vagar
devagar
divagando.
Mas ga...gaguejando
engatinhando
ando e nada
muda nada se move
chove mas
nada umedece
apenas minha íris já enxuta
se comove
e morre, mas não
esquece.
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Poema de Fabrício B., obnubilado pelo Sistema.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Comunicado

Foi muito bom estar com vocês galera, um blog repleto de belas histórias, de experiências transformadoras e um bando de três loucos fazendo todos rirem, chorarem e pensarem. Produzi textos que ao meu olhar era simples demais, mas o público adorava. Não era a hora de parar de produzir, mas como o capitalismo do século XXI, nossa família e nosso desejo de alçar novos vôos e buscar novos caminhos que talvez sejam melhores, fazem-me despedir das pessoas que acompanham e acompanharam e colaboraram com um pouquinho de si para o crescimento desse veículo de comunicação e felicidade da população. Deixo portas e janelas abertas para voltar em breve e construir novas amizades, novos textos e velhos primos colaboradores.


Abraço a todos ...

Victor Hugo

I

E lá estava ele, parado ao vento, como uma árvore no inverno. Postura de um zagueiro que há tempos ficou para trás e será inevitavelmente culpado pelo gol. Aquele ar de derrota típico em seus olhos. Seu trejeito ao ajeitar os óculos tentando expressar uma figura filosófica.
- Jogo de botão, jogo de botão [era no que verdadeiramente estava pensando].
Sua forma protuberante deixava subentendido que não queria ninguém por perto. Gostava de uma banda específica e sempre lhe dizia que essa banda era, como todas as outras, só do vocalista. Um vocalista tolo que escrevia músicas sem sentido, mesmo para ele, mas que todos os fãs se viam nela. Ele apenas dizia ‘Deixe de ser bobo!’. Deixe de ser bobo: Que frase mais infantil para ser dita.
Enquanto isso pensava quando se envolveria seriamente com uma mulher. Divagava sobre a realidade. Que mulher, em sã consciência, se envolveria com um borjeço: Mandar em um baixinho é fácil. Elas querem demonstrar seu poder e a maneira mais fabulosa é manter sua supremacia sobre o arquétipo de Apolo e, apesar de seu machismo e proeminente musculatura, retesá-lo como um rato, com suas artimanhas, joguetes juvenis, com ilusões que davam à presa a sensação de comando, quando, na verdade, fariam de tudo para manter este status quo. E ele desejava ardentemente ser este rato. Mas seu coração continuava ferido com aquela dor terrível, comparável a bicarbonato [de sódio] sobre aftas...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Forquilha (Uma homenagem)

Seja mal-vindo:
Essas são as nossas esquinas: pérfidas, chuvosas.
Salpicadas da gordura cansada do cotidiano.
Os que param por um instante são apenas homens sem rosto,
Sem dinheiro, sem alma, jugulares.
Traficamos, morremos, fugimos da polícia.
Temos apenas fragmentos do que eram nossas vidas e nossa humanidade.
As vans lotadas confessam a pobreza,
As mercearias inúteis envoltas na nuvem de poeira.
A feira repleta de ratos,
As padarias inevitáveis,
O célebre e famigerado retorno.
Pois não há história coerente a ser contada neste lugar do mundo.
Apenas o nojo.

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(Dedico este post ao bairro no qual vivi toda a minha vida, ao bairro que não tem nada demais, ao bairro que fede a esgoto parado, a fumaça de ônibus, ao bairro que não me ensinou nada, ao bairro que extrapola o bom senso, ao bairro mais impressionante de mundo, ao bairro mais terrível do mundo, ao bairro cujos acontecimentos banais se transformam em novos 11 de setembro, novas quedas do Muro de Berlim em minha mente, ao bairro que é o meu bairro. A Forquilha é o centro do mundo.)

Precisamos parar, meu anjo (ou "Poema Incompleto, Baseado em Poemas Anteriores, Mas Sobre a Mesma Mulher de Sempre:Ela")

A imagem é nítida demais para ser real.
Aqui estou eu, diante da personificação da Beleza: minhas experiências triviais de ser humano, de brasileiro, de maranhense, agora foram purificadas. É algo eternamente novo. Ela parece música. Acho que sim; deve fluir uma pauta dentro de suas veias, repleta de breves, semibreves, colcheias, luz, flores, pureza. Ou então tinta guache, suave, artística, leve como açúcar.
É um susto pré-concebido, e até premeditado. Mas é sempre um susto.
Com uma flor no cabelo, é assim que eu a imagino, sempre. Por detrás de um primeiro plano arquitetado por Cézanne ou Monet, caindo de pára-quedas, ela é/

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Amortecedores

Amor Tecedores


Amor é plantado, regado.

Amor é colhido, escolhido.

Amor é fiado.

Amor é tecido.

Amor enlaçado.

E assim nos reveste

De uma incrível veste colorida

De alegria e paz.


Amor Tece Dores


Amor ferido, amor afogado,

Amor esquecido.

Amor descolorido, desfiado,

Amor rasgado,

Amor lançado

No horizonte perdido,

A uma distancia imensurável rumo ao infinito.

Passatempo


Nenhum tempo passa tempo

Nenhuma uva passa tempo passa tempo

Nenhum vento passa como o tempo passa na uva passa

Nenhuma vida é passa como passatempo

Nenhuma vida passa como o tempo

Nenhuma passa com o tempo,

e tudo se resume ao passar tempo...

como a vida, como o tempo, a uva..Passam .


Comentário: Dê valor às simples coisas da vida...porque um dia elas passam.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Quando eu crescer


Desde pequeno me perguntaram o que eu queria ser quando crescer

Astronauta, boleiro, caçador de pipas ou de sonhos

As esperanças se multiplicam nos olhos de uma criança que mal sabia se casa era com Z ou com S

Palitos de picolé transformam-se em pessoas...

Palitos de fósforo em crianças...

Caixinhas de leite em carrinhos...

A criatividade a flor da pele, os olhos vidrados no vazio da noite

Ele só sabia que a esperança era escrita por ele mesmo, “com o acento” da batalha que ele mesmo enfrentara todos os dias... fome, solidão, ilusão.

O peso de mudar uma realidade leva esse menino a crescer, virar um poeta e ver que nem tudo se resume a dinheiro, que estar ali vivendo e respirando já é uma bela demonstração que estar vivo é uma grande comprovação de que Deus existe e sempre esteve ao seu lado.

sábado, 29 de maio de 2010

(Sem um título convincente)

É mais ou menos aquilo que Gramsci disse: pessimismo do intelecto, otimismo da vontade. Enquanto houver alguém pra ouvir ou pra me contradizer, estarei aqui, juntando as palavras umas às outras, por menos sentido que façam, por mais fragmentárias que pareçam ser. A arte é uma sobreposição infinita de recortes do real sobre o real. Tenho tentado construir (e como é desgastante e doloroso!) meu universo de retalhos assim: pelos cantos, retraçando as arestas e os flancos, perfurando as portas para ver o que há do outro lado, escavando o chão mais improvável e descobrindo mundos à parte, muito parecidos com o nosso; tão parecidos que talvez sejam o nosso, ou um sonho do nosso, ou o nosso um sonho deles, sei lá. Tenho, é obvio, minhas dúvidas e labirintos. Por exemplo: como devemos nos portar diante da estupefação que nos circunda? quando secam os oásis utópicos, estendem-se realmente os supostos desertos de banalidade e perplexidade*? ou surgem apenas oásis secos, menos metafóricos, mais concretos, que são apenas ambientes diferentes, inospitamente intrigantes, violentos e complexos?
Devemos pensar sem parar nesses nossos oásis secos.

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*Jürgen Habermas?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Evaporações

era como se parássemos pra pensar e isso servisse pra alguma coisa... sem tempo, sem dinheiro, sem amor, sem uma idéia na cabeça, sem convicções, estamos passeando pelo theatrum mundi -ambiente de atuação mal iluminado e cenograficamente medíocre*. os que tentam nos incriminar de vândalos juvenis têm toda a razão, mas a razão é só o que eles tem**, além de muitas faces e disfarces /
(certa vez, minha mãe me disse: "Ora bolas, meu filho! Se você não tem alguma coisa a que se apegar, apegue-se ao nada e às mùltiplas possibilidades do nada". dá pra concluir duas coisas: 1 -minha mãe é uma frasista de primeira; 2 - minha mãe é um projeto de niilista e eu me orgulho disso, eu acho.)
/se soubéssemos o nome de todas as constelações; se comprássemos os livros junto com o tempo para lê-los***; se pisássemos no lamaçal da sociedade sem sujar os tornozelos; se fôssemos ao cinema assistir a nós mesmos; se protelássemos ao máximo a entrega de trabalhos, balanços, formulários preenchidos, notas de empenho, boletins, comandas; se a receita do bolo fosse simples sem ser óbvia; se as pessoas desmaiassem ao som da palavra "amor"; se, ouvindo música, ficássemos repletos de beleza...
somos sempre nós, os noturnos, a cantar o desastre (e a ressurreição) de tudo.
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*Quando a gente anda em círculos, nunca se é bastante rápido, já disseram os Engenheiros do Hawaii.
**Mais uma vez, citando os imortais Engenheiros.
***Preocupação seríssima de Schopenhauer
Os netos usam a net
enquanto o velho envelhece
esquecendo do tempo
que
se esvaiece.
Se aquece com colchas de retalhos
observando velhos retratos pessoais
de tempos que não voltam mais.
E o futuro,
incerto, o remete à possibilidade
de que sempre será lembrado
ou deixado de lado...
...por causa da idade.
Saudade e esperança são o que há.
E o ar do amor
ainda subexiste em seu coração.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O artista nato
é autista
surfista
ou metodista
e mata por uma bela arte.
Paisagens de Marte
Ou uma mata qualquer.
Pés de ata
Ou atas de reuniões
Que não desatam
atos grevistas.
Revistas sobre
revistas policias
que causam desconfortos
em confortáveis
elitistas.
Artes classistas
Descartáveis, e só.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O acordeonista está vazio

alguém o observa, num frame de cotidianidade. outros (a maioria esmagadora) não. é no típico ambiente urbano em preto e branco que a fatídica e talvez imortal cena se dá, ou se manifesta - phaenomenon provável, consciente. é uma esquina da cidade mais fotogênica do mundo, Paris. ser fotogênico não significa ser belo, significa ser imageticamente fatal. (São Luís é fotogênica, nesse sentido. o acordeonista mereceria estar na João Lisboa). a mulher cujo braço esquerdo não foi captado pelo fotógrafo provavelmente segura uma sacola com cenouras, batatas e croissants frios, de ontem. outros constituintes: a bengala inútil, a placa de sinalização do incipiente trânsito moderno, a aglomeração de homens ao redor da banquinha de jogo do bicho, o frio, a presumível pobreza, de dentro e de fora. o homem que o observa, e empunha uma prancheta, com sua expressão intrigada, talvez de homem que sofre do fígado, não esconde a verdade: é um desenhista, que traça linhas infinitas e nunca conclui o desenho, de propósito. o mais curioso na fotografia é que o mundo (tudo que não é esta fotografia, tudo que está ao redor dela) continua a fluir, impreterivelmente. há uma letra B no canto da imagem, reparem. não sei que frase ou nome de estabelecimento comercial ela iniciaria. isso me dói, não saber de nada.

domingo, 23 de maio de 2010

Carta a Juliette

Da próxima vez, Juliette, espelhe-se no seu passado, antes de minar a própria vida com atitudes de antemão falidas. Não me proponho a ser teu conselheiro, querida, mas é urgente que alguém te salve do fracasso, palavra tão útil, tão completa, tão moderna. Endividada até os cabelos, privada de todas as esperanças, dotada apenas da capacidade de morrer, eu te definiria assim: uma pós-donzela, no pior sentido. Mas sabe de uma coisa? Toda a nossa geração está fadada a ser pós alguma coisa; logo, estamos perdidos. Somos o que o passado fez de nós, nossa luz será sempre apagada pelos que entrarem no salão, nossos medos são reconstruídos a cada Jornal Nacional, o desespero é data certa no calendário, nossas cartas são mentiras, nosso valor é medido no vestibular, nossos ideais são vendidos estampados em roupas de grife, nós mesmos nos vendemos através do que compramos.
Aprendemos algo com tudo isso? Não, não se aprende nada: nossa geração é geração que aprendeu a desaprender, que esquece as lições, que dorme demais, que está cansada, que morre cada vez mais, que bebe cada vez mais. Nossos nomes são os mesmos de sempre, e daqui a vinte anos teremos uma vida estabilizada, com família, conta no banco, um automóvel na garagem, idas ao supermercado, amantes, talvez, horários a cumprir, metas a alcançar no escritório; todas essas coisas que tornam a vida um mérito e uma obviedade. Juliette, enquanto isso não chega eu só digo que te amo e continuo a escrever em meu blog. Eu devo tudo à geração que sou e à geração que serei daqui a vinte anos.
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Do seu querido Luciano,
com intraduzível saudade

sexta-feira, 21 de maio de 2010

"Já era!: Mo(vi)mentos pensos no contexto de pós-estruturação do conceito de capitalismo e fuleiragens afins"*

Também de luz são feitas as nossas longas tardes e madrugadas, viajando em escadas rolantes, na televisão, da incapacidade de amar algo(-uém). Ela tomou fôlego e me disse: "Bem, eu acho que nada
e parou por aqui mesmo, sem reticências, sem fechar aspas, inconclusivamente real, seca, esdrúxula. Como eu amo todas as coisas simples e cínicas!, inclusive a linearidade dos traços de um prédio abandonado, cujo argumento claudica e acaba por morrer sem a tão prometida unção dos enfermos, que evoca os últimos respeitos à vida. Essa manhã, ó fragmentos, ia atravessando uma avenida e comecei a refletir (na verdade, fingi que refletia - não sou espelho): "Se todas as coisas que existem por aí realmente existem, o mundo é um lugar péssimo pra se viver, pois todas as coisas implicam num peso insuportável sobre o real. Ah, não: o mundo já é um lugar péssimo pra se viver, sem que eu precise me dar conta disso. Antes de eu nascer já era.". Por pouco não fui atropelado pelo ônibus da linha Cohatrac IV, durante o pensamento e durante a travessia. Pensar mata.
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*Quem encontrar algum nexo, por favor, ligue para o autor: (98)8814-0107. Ele também está à procura.

No Exílio*

Saudade:
Esse é o efeito torporoso da solidão
que atua feito
um torpedo
de melancolia
nas tarde sombrias
de um sábado de verão.
Todos, um dia,
verão meu sorriso pleno
num plano diferente deste
e neste dia
tudo será como
no Ceará do porvir
no
qual
o pó agressivo
do agreste nordestino
será convertido
numa Seara desmedida e felicita!



*Direto de BdC. - Mais um texto de Fabrício B, o autor amordaçado pelo Sistema.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

"O autor solicita uma nota de esclarecimento", de Fabricio B.*

O autor solicita uma nota de esclarecimento, pois o mesmo está em BdC, onde os contatos diretos com os colaboradores são bloqueados pelo Sistema:

“Algumas pessoas advertiram, informalmente, sobre o significado em o Preço da Pressa: na verdade trata-se, em princípio, de uma publicação sem título. Nasceu como um trava-línguas qualquer [três tigres tristes], um jogo de palavras parecidas, com uso de digramas que causam irritação nos escritores e dúvidas quanto ao uso de s,x ou c, j e g, etc., jogo de palavras iguais com significados diferentes, um jogo de rimas com sonoridade. Quanto ao significado é salutar que cada um atribua o seu e comente. Quanto ao significado do autor [porque este uso na terceira pessoa?]: falo de pressa e insistências tipicamente arrogantes deste mundo virado, simplesmente. Perguntam se é só isso. Sim, é só isso. Mas este isso dentro de um contexto qualquer pode se transformar no desenho da vida de alguém, tocando no âmago de questões invioláveis.
- Expeça um café... expresso... com pressa!
- Por que esse imperativo idiota? Isso aqui não é qualquer bodega que você chega mandando!! [frase de efeito típica de delegacia do interior]. Ora, Expeça você!!
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*Texto elucidativo de Fabricio B. - o mesmo está impossilitado de postar em seu nome, por exigências e contingências do Sistema. Por isso manda os textos por email, e eu, Luciano Leite, também iminente vítima do Sistema, publico.

domingo, 16 de maio de 2010

O gordo


Um cara que é muito mais que um amigo

Que às vezes se transformava até num super-herói atrapalhado

Que acabava com os inimigos mais cruéis: bolos, doces e travessuras.

Que jogava bola sobre o orvalho da Jordoa

O artilheiro matador dos gols bonitos

O poeteiro do amor e da putaria, que fazia tudo isso com uma dose de psicologia

O cara que põe versos em fotos

Que pira escutando rock, jogando nintendo e soprando fitas de Mortal Kombat

Que trabalha numa escola no infinito, com crianças que necessitam muito mais que um ensino

Que deixa de comer pra ler

Que deixa de brincar pra trabalhar

Que deixa de ser criança e vira homem.


Comentário: Dedicado ao cumpade Luciano.

Beija-me

Pesando 126 quilos, com 1,84 de altura, temos, do lado esquerdo (o público, todo composto por fumantes e amantes do uísque, vai à loucura...) ele, o maior, o grande, o gigantesco, Marius Roger! (os flashes explodem de todos os lados, tentando captar a figura musculosa e brutal que se apresenta no ringue, banhada em masculinidade). Do outro lado, não menos assustador, está ele, que defende o título desde 1946, pesando 123 quilos, e com 1,79 de altura, com sua famosa barba(o público, todo composto de mafiosos e acompanhantes de luxo, vai à loucura), ele, o incrível alemão Carl Hertz-Lang! (o juiz inicia a luta, os golpes são desferidos no ritmo habitual do boxe, a melancólica dança dos lutadores se desenha no ringue respingado em suor e sangue, gritos de apoio, vaias, blasfêmias, orientações dos técnicos, tudo elucidado pela iluminação amarelenta e esfumaçada). Mas em dado momento do combate, lá pelo 5º assalto, o alemão nocauteia contundentemente o seu adversário, que cai inerte. A contagem regressiva poderia ter sido desconsiderada, pois o homem já estava morto. Os médicos do local tentam socorrê-lo, inutilmente. O boxe perde mais um perdedor.
É uma noite normal na Nova York de 1949: luta-se e morre-se.

sábado, 15 de maio de 2010

Edgar

“(...)Edgar realizou a viagem em setembro de 1992, deixando pra trás tudo que podia deixar. A lembrança que temos de Edgar é essa: o homem que acenava no saguão do aeroporto - que pode ser Cumbica, JFK, Heathrow - com um ar envergonhado e tímido de quem se despede pra sempre ou de quem sempre se despede. Imagino os inúmeros ensaios solitários que Edgar fez do aceno final, na frente do espelho. A despedida é um ato de coragem, de amor, de clareza, que busca sempre o futuro, o momento através do qual nega a si próprio: o momento do reencontro. Para Edgar, homem não muito satisfeito com a vida, despedir-se era um modo de existir. ‘Não tenho mais nada a fazer aqui’, dizia e ia-se, à francesa. Não ficou muito claro pra nós quem era Edgar. Sei apenas que pegou o avião e foi embora. Não nos telefona, nem manda emails ou cartões postais. Talvez ele se despeça de si mesmo um dia, e vá em busca do sentido da vida, mas ainda isso seria óbvio demais para ele.(...)”

Trecho do livro “Vida e Obra de Edgar Mensonge”, Companhia das Letras, 2010, R$ 34,99, pág 76.

Preço da pressa

Expeça um café
com gotas de limão bem
espremido,
exprimindo o amargor do dia-a-dia,
para eu tomar com
compridos
comprimidos
elaborados por um químico
que cumpre ordens,
pois estou bastante
deprimido.
Expeça logo este café
expresso com bastante
pressa
pois tenho que pegar o trem
expresso
que parte com
pressa
esgrimindo
como quem tenta escapar da
presa felina da noite que avança
e nos domina.

sábado, 8 de maio de 2010

Foi como um sonho...

Às vezes um ser humano é muito mais que um ser humano.


Comentário: Designação de uma pessoa muito especial; luto de 1 semana no blog; ficaremos sem produzir nos próximos dias, e durante esse período o blog não terá nome (apenas o link), nem foto, nem descrição.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Óbvio...

É uma choperia ali de Pindamonhangaba-SP... quer saber o óbvio de lá?

Muita amarelinha pra você tomar com um tira-gosto.

É uma fabricante de automóveis brasileira.

É uma expressão que metade da população utiliza e não sabe nem metade de seus significados.

Pode ser um super herói também... o capitão-óbvio.

E para o Rappa?...até o obvio vale a pena .

ÓBVIO- objeto voador incolor ocioso.

E para o Adriano?”Óbvio que quero ir para a Copa”.

E o não convencional?

Algo fora de convenção e que meia dúzia de malucos pensam que é o certo.

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Comentário: Após informações da mídia, Victor Hugo descobre que seus textos estão mais como uma auto-ajuda do que um simples e mero veículo humorístico, então ele corta sua orelha (Van Gogh) e depois publica o texto.

Arte

"Arte é uma criação de valores que a sociedade de certa forma desvalorizou. Houve um esquecimento do sentimentalismo em cada pincelada, a sede de transmitir o que o coração fala, a busca da perfeição dentro do campo de visão do autor, pois nem tudo que ele faz agrada as pessoas, mas de qualquer forma traz alívio a ele."
Por Isabela Palitot, em maio de 2010

Salve, salve!

Gostaria de enviar minhas cordiais saudações à artista Isabela Palitot, que, com seu talento, nos brinda com uma intertextualidade nova e muito interessante em nosso blog. "A arte é a mais real de todas as coisas", já alertava Marcel Proust, e o nível de realidade do Abstrações... só tende a aumentar com a valiosa contribuição da jovem Isabela.


Grato, Luciano Leite.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Felicidade



Pode ser apenas uma pintura de alguém que está começando sua carreira artística. Mais isso é muito mais que um lugar em que andorinhas são apenas andorinhas, onde barcos carregam pescadores de ilusões, que buscam incessantemente a felicidade . Talvez felicidade é estar em um lugar vendo o mar longe de tudo que se mostra negativo ou comprar absurdamente em um shopping, ou roubar alguma coisa por puro prazer(cleptomaníaco), ou...será que realmente somos felizes?Sei lá, sempre falta alguma coisa...a autora dessa pintura encontrou a felicidade nesse lugar, que ninguém sabe onde é, não há mapas ou caminhos....resta cada um buscar o seu.
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Comentário (Victor Hugo): Colaboração de Isabela Palitot com seus quadros que buscam respostas no infinito, a pintora tem talento e traça um futuro promissor.

Penso, logo insisto.

-E Godot, virá?
-Estamos à espera.

domingo, 2 de maio de 2010

"Perplexo ante o coração da luz, o silêncio" - parte II

Eles perseveram nas técnicas do absurdo,
E elencam as cinquenta novas maneiras de existir.
Eu renuncio, faço um brinde ao Canal de Suez ("Cheers!"),
Elaboro o próximo mapa astral de Tiradentes.
Sem uma gota de esperança,
Eles escrevem livros densos sobre a morte, a psicologia,
A pluralidade das manifestações paranormais, e
Depois? Depois caem em desgraça!
(Este lugar, a Desgraça, tão comum, tão próximo, tão urgente!)
No ambulatório, quem me dera poder atravessar as grades de mim mesmo!
Mas os fragmentos continuariam caindo, sem parar,
Num acesso de lucidez sem precedentes:
Os agentes do Estado já começam a me procurar,
Perseguindo as pistas e interrogando as testemunhas...
Mas pra quê, se a grande pista sou eu? Eu!
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Poemeto dedicado a T.S.Eliot (1898-1965)

Só me deixe onde a luz está

Pra você o que é amor?

É somente aquele que você sente por seus pais, pela sua família ou por sua namorada?

Amor é muito mais do que uma posse, é sentir-se feliz quando você escuta aquela musica e as lembranças correm aos olhos como se aquilo fosse real. E esse real acaba confundindo-se com a realidade e você acaba perdendo a noção de tempo e espaço.

A razão fica como mais um componente obsoleto e o coração pulsa de forma tão violenta que acaba faltando ar...E nesse ar estão todas as tuas esperanças de que aquele amor seja correspondido e você acaba mais uma vez dando um maior valor as simples coisas...um abraço, um olhar, uma risada...

E o tempo passa como um relâmpago... tão rápido que as circunstancias mudam, mas aquilo vem pra amadurecer e por na tua cabeça que você esta certo que aquele amor vai ser retribuído.

Mas...se todo aquele processo der errado e toda a luz virar escuridão ...pense que você amou com uma sinceridade tão grande que ao fechar os olhos não viram memórias ruins..mas sim memórias boas de quem cumpriu o seu papel de ser humano com erros e acertos.

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Comentário: Qualquer pessoa pode fazer uma poesia filosófica ou uma poesia romântica, mas só nós, Victor Hugo e Luciano Leite fazemos muito mais que textos, são experiências vividas na pele...como dizia John Mayer: Just keep me where the light is ("Só me deixe onde a luz está").

"Perplexo ante o coração da luz, o silêncio." - parte I

Da próxima vez que vieres,
Eu estarei curvado sobre as pedras metafóricas
E então não me pegarás de surpresa.
De verde, de lilás e de marrom,
Meu deus, quem são eles que adentram a típica manhã de 1633?
Essa longínqua e saudosa manhã!

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Poemeto dedicado a T.S.Eliot (1898-1965)

sábado, 1 de maio de 2010

Coletânea de divagações esparsas

Laços: não os partirei.
Para não ser atingido por raios durante a tempestade,
Não basta fingir-se de morta, querida.
Encontrar no desespero uma saída é uma saída, mas,
Se a cada 10 palavras ditas no mundo, 9,14 são de dor,
De que serve a voz humana?
Eu estou do lado errado, eu pulo fora,
Eu exerço funções sociais simples
Eu tenho sonhos curiosos com o João Gilberto,
Eu pulo fora de novo.
As estrelas (na verdade, foi meu pai. O termo "estrelas" eu uso pra
[ficar mais poético)
Me ensinaram que a vida tem apenas dois lados.
Um é a morte, o outro é aquilo que antecede a morte, e voilá:
Aqui estamos.

"Teresa aqui está," ...

Estamos à beira de nós mesmos, em plena decadência. Minhas mãos fedem a óleo de motor, meu anjo: o destino nos pôs aqui, um de frente para o outro, para que possamos trocar palavras ternas (ou tapas) e identificar, na nossa timidez mútua, a existência de um outro ser que faz sentido. Eu pensei muito em ti, e teu valoroso apoio foi um fogo construtivo, que acrescenta ao invés de consumir. Todos os caminhos levam à falsa Roma que se chama meu coração, e em ti é possível elucidar todos os crimes não cometidos. Ó sinistros fragmentos do real, ó moedas do acaso, que pululam na noite!
Minha vida tem sido tentar encontrar-te. Em vão vivi, pois.

Sonho animalesco

Um dia desses, num desses encontros casuais, me pego olhando lagartixas halterofilistas cantando Engenheiros do Hawai. Mais do que um plagio, isso é mais uma das idéias loucas em que há causas e conseqüências. E no rascunho criado por um bêbado, sua nega fica entediada sempre que seu ‘bafo’ de álcool sussurra em suas narinas.

Entediar nem sempre é a regra da vida.

Apaguei a luz, não consegui olhar teu doce, doce mel,

Rios musicais estão poluídos por bandas tipo Restart, que se diz uma inovação dos lendários Paralamas do Sucesso e outros.

A sinceridade fluente... filosofia.

É queguida, meu nome é Dicesar, e as bibas confirmam,

Por trás de nuvens de purpurina, um grande homem composto de

Três coisas:

Maquiagem, frescura e incertezas. (Talvez sair do armário seja a quarta,

Mas fiquemos só no “Talvez”).

Largatixas, zebras e lagartixas...

Todo o zoológico canta dentro de jaulas sujas e obscuras..

Não, ali não é a puta que pariu, mas lembrarei de tudo e todos, apesar disso ser tudo apenas um sonho.




Lagartixas halterofilistas

Estive pensando: quinze pras quatro.
As causas eu as tomo pelas conseqüências, pela culpa preliminar,
No mapa-múndi desenhado pelo bêbado.
Ficas entediada sempre que minhas palavras soam, Elisa,
Mas o tédio é a regra do jogo.
Eu estive apreciando daqui a tua luz, teu mel,
O rio musical que percorre tuas veias,
A insinceridade fluente como o inglês, o método científico.
Sim, querida, meu nome é Thomas, e os deuses confirmam,
Por trás das nuvens imaginárias, que toda a Verdade consiste em
Três coisas:
Pretextos, suspeições e incertezas.
(Talvez as mentiras universais sejam a quarta,
Mas fiquemos no âmbito do “Talvez...”).

Médicos, mendigos e macacos
Cantam a Marselhesa debaixo da
Palmeira infinita:
Não, não é o paraíso, mas eu me lembrarei para sempre deste dia.

domingo, 25 de abril de 2010

"Pára, instante que passa, és tão formoso!"

Pois eu digo o contrário.

Estarei dentro dos trens, dentro dos próximos telégrafos.
Ao passar, meu rastro será algo como a sombra de um pássaro de isopor,
Que não se deixa arruinar.

Minhas casas de câmbio consistem em tecelarias, fábricas de pipas,
Sorveterias falidas, banquinhas de jogo do bicho.
Conjugando os verbos de cabeça pra baixo,
Reinaugurando o teatro do Universo,
Eu acho que me encontro.

Eu estou feliz pra cassete, cara.

Bilhar...ou Brilhar?


Em mais uma daquelas tardes quentes de faculdade, em que professores faltam no infinito, em que estudantes conversam sobre Karl Marx e degustam de um belo charuto cubano, eu me pego pensando na vida e jogando bilhar... Rapidamente imaginei a Geografia explicando todas aquelas jogadas que fazíamos, e nós brincaríamos de ser Deus por alguns segundos e com uma tacada explodiríamos aquelas 14 bolas ao longo daquela mesa esverdeada, que tinha mais cara de universo (big-bang).

Depois disso, todas as esferas se transformariam em contrastantes planetas numerados de cores diferentes ou se aqueles objetos caíssem em um buraco branco (caçapa), se transformaria em um buraco negro. O giz seria a poeira cósmica que fica vagando na mesa de bilhar, as fichas poderiam ser o hidrogênio e o hélio que funcionam como combustível do Sol e o velhinho (Seu Antônio) que nos vende as fichas todos os dias na vivência, seria o cara que sustenta nosso vício, poderia ser Deus...

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Comentário: Texto rápido com uma boa doze de tequila e como tira gosto, a Geografia.

sábado, 24 de abril de 2010

"Escuridão, muito mais escuridão"

O suor foge. Eu agarro o desodorante com as duas mãos, e te dou de presente embrulhado naquele papel crepon, como fazíamos quando não tínhamos emprego (a chamada lisura). Depois de fumar sonhei comigo: Tiririca já dizia “Qual é? Qual foi? Porque que tu tá nessa?”. É por isso que eu sou um comediante. Porque assim todos se fingem engraçados e simpáticos, saltitando em uma enorme falsidade. Sono, impaciência, fome... Texto de dois parágrafos, com todas as regras da gramática e como os professores de redação gostam. Porque assim induzo você, caro leitor, a tirar uma soneca antes de terminar de ler nossos textos preguiçosos, por que assim todos ‘param na posição’ (refrão da música Cabecinha do Bonde do Tigrão) em suas covas. Acho que esse blog não passa de um veículo dirigido por loucos comediantes falando de sua vida de uma forma real e ao mesmo tempo engraçada. Acho que atribuir significado a algo é tentar atribuir significado ao sistema como um todo.( oh, nice little girl, this is almost impossible). Tentaremos no próximo verão, terminar com dois pontos:

"luz, mais luz"

a inspiração foge. eu agarro-a com as duas mãos, mato-a, e te dou de presente ela empalhada, como fazem os caçadores norte-americanos. eu sonhei comigo mesmo um dia desses: pirandello disse que não dá pra assistir a si mesmo vivendo. é por isso que eu sou um ator. porque assim todos fingem que são atores também, saltitando dentro do insuportável devaneio. sono, inocências, silêncio. confusão. texto de um único parágrafo sem maiúsculas, do jeito que eu gosto. porque assim eu me perco lendo, eu durmo durante a leitura, porque assim fica parecendo aquilo que se chama fluxo de consciência e aí a virginia woolf revira no túmulo, ah, o james joyce também, eu nunca li eles (metonímia, monsieur!), eu acho que este blog não passa de um blog que fala sobre o que é ter um blog e o que é escrever em um blog, e nada mais. eu acho que atribuir significado a um coisa é tentar atribuir significado a tudo que existe (oh, little girl, isso é quase impossível). tentaremos na próxima primavera, e este texto termina com uma vírgula,

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Realístico*

O estudante (e "badernista") Luciano Leite da Silva foi encontrado perdido no Hellviver. As testemunhas afirmam que ele cometeu vários atos de delinqüência junto a outros perdidos no local. Entre suas principais contravenções estão um atentado ao pudor por comer o souza¹ em público; um ato de agressão, por disputar, "no murro", um porção de big-bigs; vandalizar o patrimônio público pisando na grama, além de ter tirado fotos de qualidade duvidosa com um objeto comprido não identificado.Entre os demais atos de vandalismo, cortou a água da governadora do estado, deixando a Excelentíssima senhora sem saber o que fazer com os dejetos em sua privada.Voltou para casa numa festa orgiástica, com outros oito elementos, dentro de um Palio. Fontes dizem que a festa em questão chama-se "calorada". Traseuntes que flagaram a cena dizem que Luciano Leitee gritava, ensandecido e insaciável, "Sobe, sobe, sobe!" para seu parceiro na ocasião.Chegou em casa ileso não se sabe ao certo como e caiu na cama de exaustão. A polícia não se preocupa com Luciano, mas as comunidades das áreas pacatas, agora peturbadas por este que tem sido considerado um desafiador da moral e dos bons costumes, sim.


---Não está jornalístico, mas whatever. Se bem que... Se for AquiMA ou Atos e Fatos, pode estar jornalístico sim

¹ : Pra quem não entendeu: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=461665
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*Autora: Mônica Beckman (codinome: Beck)
Como ficou melhor e mais real que o "Jornalístico", este merece ser publicado. A autora explora os níveis de insanidade aos quais estará relegada a cidade de São Luís se ninguém fizer nada com o autor desse blog.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Jornalístico

O estudante Luciano Leite da Silva (20 anos) foi encontrado vivo na praça Deodoro, tomando um lanche fuleiro numa banquinha qualquer. As testemunhas informaram que ele trajava uma camisa vermelha e calça jeans, além de segurar um guarda-chuva nada fashion e sua pastinha de calouro da UFMA. A barba por fazer e o olhar perdido do jovem denuciavam que ele estuda temas da psicologia, da futebolística, da futilidade cotidiana e do vazio existencial. Depois do lanche, o jovem foi para casa, tendo que se utilizar do tranporte público para tanto. Fontes informam que, quando chegou ao lar, Luciano deu um beijo no rosto da mãe, seguiu para seu quarto e foi assitir televisão. A polícia não se preocupa com Luciano, pois ele não representa perigo nenhum à sociedade.

Grato*

Fico muito grato ao autor Luciano Leite lembrar minha pessoa e fazendo comentários espetaculares ao longo desse meio de divertimento, informação e risadas. Nas ultimas semanas há tantos boatos quanto mentiras, sendo que a globalização e a mídia contribuem para tal do sucesso de nossas criações de cunho psico-humorístico. Mas vamos lembrar das pessoas que estão por trás dos nossos textos, não no sentido sexual como alguns anti-sociais (nova nomenclatura para psicopatas) pensavam, mas daquelas humildes pessoas que fazem muito mais do que relatos do seu dia-a-dia sofrido. Essas pessoas contribuem com o nosso trabalho com suas históricas irônicas, seus ‘micos’ da vida real, suas teimosias de infância, até seus jogos de xadrez no canto da rua...
Queremos lembrar o Sr. Zequinha da pizzaria (que nos abasteceu nessa caminhada), Seu Bodé (que não está mais entre nós... viajou para a Espanha) que era ex-fumante, Seu Manin da bilharina (que nos vendia fichas na madrugada), Dona Maria (que sempre nos abençoava quando passávamos na frente do seu buteco), Dona Janete(que sempre ajudou mamãe a nos criar) e outros. Pedimos desculpas ao velhos anciões que não foram lembrados, pois muitos contribuíram para o meu sucesso e do grande autor Luciano.


Com gratidão...
Victor Hugo.

*Agradecimento do mano Victor Hugo.

domingo, 18 de abril de 2010

Esclarecimento

Como devem ter percebido, as 4 últimas postagens (com asteriscos ao lado do título), são de outro autor, no caso, de meu grande mano Victor Hugo. Ele viu que meus textos eram rídiculos e resolveu adaptá-los do modo sagaz e violentamente engraçado que só ele sabe fazer. Aí, quase que inesperadamente, veio o sucesso: a crítica especializada deu o aval, os especialistas conceituaram, o público firmou como "O máximo!!!!", e os textos humorísticos da genial revelação Victor Hugo Leite dos Santos agora fazem parte da nata da produção cultural internetesca brasileira. Victor Hugo não apenas virou Trending Topics do Twitter, como está causando um frenesi entre a mulherada (o que já era natural, haja visto seus olhos verdes). As paródias fantásticas e alopradas do jovem sintetizam o caos e o desarranjo da pós-modernidade, num contexto de pura malandragem e consumo de álcool, e por isso valem a pena. Luciano, o dono do blog, tentará não perder o contato com essa mente extremamente criativa que é o autor Victor Hugo, pois há boatos de que ele foi contactado para ser o blogueiro oficial do Globo.com e da UOL; além disso, há um suposto email da redação da Veja que o convida para ter uma coluna fixa na revista. Prestigiem a obra deste prodígio antes que ele caia no mundo!!!!!!!

Amarelinha 2*

Estava no fim do mundo chamado... Brasil.
E por lá por puro acaso do destino me transformei num grande filha da puta motora da linha Campus-UFMA, vagabundo que não faz nada, fumante, professor de cursinho, vendedor de idéias revolucionarias e de pitomba, torcedor do Moto e pseudo-conhecido por muita gente.
Infelizmente não aproveitei todo esse prestigio e acabei esbarrando em meus ideais utópicos socialistas, e não recebendo nada por todos esses feitos. ‘ Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é meu lugar’ já dizia o Rei Pelé. Hoje, eu participo de um grupo de cachaceiros, e como designa o titulo da minha breve história, eu vivo sempre com a Amarelinha, na mesa do bar, com centenas de casos de amor. Até criei um blog, mas como eu sou sei que sei escrever, não faço sucesso nem no meu bairro, nem na minha província, muito menos no meu país, nem no planeta, talvez fora do Sistema Solar ou no Sistema Solar do Universo, se existisse vida fora da Terra...
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*Da série: Parcerias com mano Victor
Paródia descarada e bem vinda do poema-projeto "Amarelinha", do autor Luciano Leite.
Todo humor é absurdo e tudo que é absurdo é válido.

“I don't give a shit”, by Tomás Turbando*

Josefina, quando eu penso em tu, eu penso em tu.
Josefina, quando eu penso em mim, eu penso em mim.
Pra que eu vou ficar me preocupando contigo à toa?
Josefina, quando eu penso em conceitos universais, como limpar a casa, cuidar das crianças, lavar a roupa, fazer a comida, eu quero, na verdade, que tu faça.
Josefina, quando penso em dormir, penso no melhor, penso em Ortobom. É ele minha musa inspiradora, é ele que me faz gritar no teu ouvido: “Minha nega, minha preta, vem pra cá”.
Josefina, quando eu estou sozinho lá no nosso cafofo, de madrugada, sinto tua falta, o nosso amor é ouro, parece música do Skank, mas como propaganda é mais caro em nossas publicações semanais, o show é dia 14 de novembro na Laguna da Jansen, o ingresso está R$40.00.
Josefina, em ti o meu cerrado vira deserto... é preciso conter o avanço da soja e da criação de gado.
Josefina, eu estudei demais, e aprendi que isso é uma conseqüência da ação humana.
Josefina, eu esqueci tudo antes da prova, será que eu vou passar por essas provas que permitem ao aluno reprovado estudar três anos em um só?
Josefina, minha voz ta seca, pega água!! e meu olhar vazio, o colírio ta no quarto!! Mas seca é a voz de quem te xinga todos os dias por não completar os afazeres domésticos. Josefina, a peteca dos olhos sempre me faz lembrar aquele dezembro de mil novecentos e carne de porco. Numa data em que eu nem sabia que tu existia, se eu fosse pra ... nem iria saber que eu tinha ido, nem me encontraria nesses Caminhos da Vida, escrita por Manoel Carlos (Maneco).
Negona.
Eu escrevo paródias de putarias, mas é como dizia Lula: "Ninguém aqui é freira ou santo, não estamos em um convento, e não me consta na história que em um convento também não tenha briga."
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*Mais um texto da série: “Parcerias com mano Victor”. Autor: Victor Hugo Leite dos Santos. Livre adaptação do poema “Balada do amor abstrato”, de Luciano Leite.

Vícios e virtudes*

Sigmund Freud cansara-se de fumar. Estava com as nádegas inchadas de tanto ficar nas confortáveis cadeiras de 1939. Diz a lenda que o cigarro era jogado para dentro das trincheiras na 1ª Guerra Mundial. Quem sabe nenhuma dessas caixas não caiu na casa do criador da psicanálise. “Ah, porra!!!!”, pensou Freud, enquanto descobria os mistérios do inconsciente humano, tragava seu charuto para passar o tempo. Quem sabe suas descobertas não foram feitas quando ele estava em um estado de êxtase. Se já existisse a droga êxtase do século XXI ele iria sentir-se confiante e com um pouco mais de energia. “Termino essa droga amanhã!”. Faltava a conclusão que mais tarde viraria livro da revolução do mundo dos sonhos, do ‘eu humano’, mas o cansaço realmente não o deixaria continuar.
Levantou-se, limpou displicentemente os papéis cheios de fuligem, coçou o saco e o olhava com carinho depois de dirigir-se ao quarto. Tirou logo a roupa, deitou-se ao lado do cachorro e sonhou como os loucos sonham: com os olhos fechados, com a mente aberta. Parece coisa da Xuxa, mas merchandising é algo caro no mundo globalizado, não vamos entrar em detalhes, relembrando que a Xuxa está lançando o DVD Só Para Baixinhos 7, as crianças que quiserem participar é só entrar no site www.globo.com/tvxuxa e preencher o cadastro.
Era um homem de ombros significativamente largos, parecia o Victor Belfort, autor de “Os miseráveis”, que escrevia à beira de um ring alto, dispensando pancadas... na mesa tremula por estar muito usada. Era alto, barbudo e sério, e estes atributos o caracterizavam, à época, como melhor malhador de LEG-45 excelência: altura (não existem anões malhadores – Dunga, Dengoso, Soneca, Atchim, Feliz, Zangado e Mestre eram filhos da Branca de Neve); barba (símbolo da não difusão do gillette prestobarba); e seriedade (se não fosse uma pessoa séria, seria o Zé Cachaça do Flamengo! (Os são paulinos eram bambis? Eu sou bambi?).
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*Da série: Parcerias com mano Victor.
Comentário: Texto elaborado por Victor Santos com uma parceria de Luciano Leite e patrocínio da editora Porra Nenhuma, que procura apoiar textos que são contra o uso de tabaco, droga, violência e torcedores do São Paulo que acreditam no título do Brasileirão 2009 e que procuram prejudicar a saúde humana e são contra os preceitos do Dr. Drauzio Varella. O texto consiste em mais uma livre adaptação, dessa vez do texto "Platão, ou Como filosofar em cadeiras desconfortáveis".

Jarbas: as histórias de um herói *

Jarbas, seu grande filho da puta, lembra daquele domingo de jogo do Flamengo em que a gente foi pescar naquela lancha laranja que seu cunhado iria emprestar pra gente e você disse Hoje o mar não está pra peixe e eu insisti e você firmou pé e eu insisti de novo e acabamos indo e passamos mil e uma noites quase à deriva sem pegar nada, a não ser a feérica insolação da lua, e você dizia o tempo todo Eu disse... (com desdém e cinismo).
Como eu odeio pessoas que dizem Eu disse... mas eu gostava de você Jarbas e agora você morreu e me deixou sua herança (um par de meias cujo pé direito você usava pra cuar café e o esquerdo como toalha de banho, duas moedas de cinqüenta centavos, um pôster do Sampaio Corrêa campeão brasileiro da série C em 1997, e, incrivelmente, uma caixa enorme com todas as edições da Playboy de agosto de 1989 pra trás; não sabíamos dessa curiosa coleção que nosso amigo mantinha guardada em casa).
Eu me lembro, seu safado, de 40 reais que eu te emprestei numa noite na porta do cabaré Rosana Drink’s e você nunca me devolveu, mas agora eu te perdôo porque você era muito gente boa. Lembro também que nessa mesma noite você arranjou briga com uns bêbados na volta pra casa, quando ainda esperávamos o ônibus na integração da Cohab(as voltas pra casa eram a melhor parte da noite...) e a briga foi tão boa que eles viraram nossos amigos e todas as quintas feiras tínhamos que nos reunir para beber e brigar não necessariamente nessa ordem mas necessariamente às quintas e eles tinham nomes infernais e fantásticos como Tunga, Woompa-Loompa, Diógenes, Pé-de-Lesma, Boleto Bancário e muitos outros e éramos grandes amigos eu você e eles cara eu nunca pensei que iria chorar por um homem hoje eu choro por você meu amigo você que foi embora.
Caramba as tragédias anunciam-se com muita pouca antecedência. Sinto falto do Pé de Lesma, que dizia sempre ‘Eu não estou nem ai pra minha irmã. Sabe onde ela está?Bem ali na Universal’. Seu tom sarcástico enganava a sua real situação de cachaceiro.
Jarbas eu sinto sua falta, aquelas velhas peladas e aquelas peladas velhas na litorânea, em que íamos naquele Gurgel 1870 que mal se segurava em pé. Mas amigo eu queria que você estivesse aqui, por que eu queria fazer com você uma nova historia e não um filho, que é como você queria. Jarbas eu não sou homossexual e só vou virar se tiver cotas na universidade publica. Eu nem sei pra que eu estou escrevendo isso, velho lobo, acho que é pra eu mandar pra mim mesmo como fazia Fernando Pessoa. Mas como eu não sou poeta vou tentar mandar pelo correio eletrônico de Deus.

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* Da série: Parcerias com mano Victor.

Autor: Victor Hugo Leite dos Santos
(Adaptação livre e tragicômica - com traços de maconha - do mini-conto burlesco "Jarbas", de Luciano Leite. O autor do texto original saúda a coragem, o bom humor e a parceria de Victor Hugo, que é um cara muito fera. "Valeu, mano!", diz Luciano.)

sábado, 17 de abril de 2010

Amarelinha

Estive num país distante chamado...
E lá, por obra do acaso, fui rei, gari, cobrador de impostos, piadista, amante, cobrador de ônibus da linha Uema-Ipase, dançarino de rua, mendigo, professor universitário, ascensorista, vendedor do cuscuz Ideal, filósofo, louco, "ladrão, pulha, falsário", proprietário de banquinha do jogo do bicho, deputado federal, radialista, mega-empresário das comunicações, cartomante, jogador de futebol, funcionário público, artista circense, dono de cursinho preparatório para concurso e pseudo-celebridade badalada pela mídia nacional.
Só não recebi salário por nada disso. Resolvi voltar, cansado de exploração e descaso de meus patrões, da falta de familiaridade com a sociedade local, da dificuldade com o dialeto e o clima, e acima de tudo, pelo fato de os nativos viverem bêbados.
Hoje eu participo de um grupo separatista que tenta desvincular minha rua do bairro, meu bairro da cidade, minha cidade da província, minha província do país, meu país do planeta, meu planeta do Sistema Solar e meu Sistema Solar do Universo. Mas como não consigo, criei um blog pra mim, onde falo sobre isso.

Joguem para o alto o auto-falante

Vivemos em realidades alternativas, aniversários, cais cobertos de flores.
O que eu amo:
Quando a delicadeza do poema
subverte a voz do poeta,
que é inapelavelmente fugaz e suja.
Quem quisesse ouví-lo, estaria perdido, quem estivesse perto dele
Transformar-se-ia numa Palavra, em pura linguagem, ou em sorvete.
O poeta é o mágico que engole espadas, doma leões e morre fazendo palhaçadas,
Quando ninguém lê, ouve ou assiste ao espetáculo.
Quisera eu poder ensinar a todos como não falir,
Como não reprovar, como não ser um péssimo pai,
Como não ser assaltado em semáforos, como fazer goiabada;
Mas tudo que aprendi na vida foi a não estar aqui o tempo todo.

Auto-ironia

Escrever um novo post se torna cada vez mais difícil para o autor. Momentos de terrível ansiedade recaem sobre o espírito do pobre Luciano quando se aproxima a hora de escrever algo na beira do computador. Ele sua, come doces compulsivamente, esquece as chaves de casa, é atropelado nas avenidas (aliás, ele não precisa ficar ansioso com nada pra ser atropelado; esse é um atributo natural das pessoas tontas). O ofício de escritor moderno (ou moderninho, no pior sentido) tem sido um peso imensurável na vida do jovem, cujas únicas obrigações-de-homem-sério antes de possuir um blog eram assistir de vez em quando o Jornal Nacional e comprar o pão de manhã cedinho - e olhe lá. Ele não suporta mais. Suas dores amainam apenas quando, a muito custo, o texto fica pronto e ele pode clicar no quadradinho laranja que diz "Publicar Postagem". Passar para o papel suas angústias, necessidades e questões existenciais é a missão mais difícil que surgiu em sua vida. Transformar tudo aquilo em metáforas, base de toda escrita ficcional, então, passou a ser um tortura das piores! Mas o autor teve uma ideia e está muito próximo de alcançar uma solução para tudo.
"Toda arte é absolutamente inútil", lembra Oscar Wilde. Logo, não é mais necessário fazer arte, nem exigir de si qualquer nível de esteticidade no que se produz, mesmo porque fazer algo com intenções formalmente estéticas soa vulgar e óbvio nos dias de hoje. Luciano resolveu parar de escrever mini-contos, poemas abstratos, digressões sobre a vida contidiana, reflexões oportunescas sobre futilidades universais; e passará a relatar no blog apenas as coisas com as quais sonhar durante a noite, num exercício de significação e atribuição de sentido, sem quaisquer intenções impressionistas ou artísticas. Ele será direto, conciso e objetivo nessa empreitada. Nada de "viagens", porque, do jeito que andava o blog...
Mas surge a dúvida: quem me garante que eu, minha vida, meus textos, as pessoas que conheço, a sociedade na qual vivo - que tudo isso não é mesmo um sonho noturno ao qual eu tento entender, sem conseguir? Borges anteviu tudo isso, mas o autor parece sentir, que vale mais do que antever. Sim, escrever sobre a vida é saber-se num sonho, só isso. Ah, sim, escreverei sobre esse sonho, sempre.