quinta-feira, 17 de junho de 2010

À noite

Era a noite das noites em São Luís - calor, vulgaridade, violência. Eu, cansado do dia de trabalho e da vida impregnada de obviedade, caminhava obliquamente por uma rua qualquer da Forquilha, mal iluminada como um prostíbulo (a vida ou a Forquilha? - tenho sempre minhas dúvidas). Eu conhecia aquela região da cidade como a palma da mão: o Bom Preço, a antiga Código Vídeo, atual Papelaria Montelo, o bares, os churrasquinhos. Tudo muito prosaico e banal, como sempre. Até que alguns homens vieram na minha direção, mal vestidos, saídos do breu que era um dos becos que desembocavam na Alarico Pacheco. Primeiro eles pediram fogo para acender os cigarros: eram muitos, 8 homens. Um deles não tinha um cicatriz na testa, os outros 5 eram mediam aproximadamente 1,40 de altura e os 4 restantes certamente eram escritores frustrados, dada a sua cara de eruditos tristes. "É foda!", um deles disse, "a gente passa a vida toda tentando conseguir uma coisa simples como fogo e um dia consegue." Ao fundo, na imagem noturna, um ônibus da linha Forquilha-Ipase (T-095) segue seu caminho, rumo ao ponto final.
E ele continuou: "O fogo é a energia pura, é puro Heráclito. Conseguimos". Não consigo me esquecer da camisa do Flamengo que um deles usava: era provavelmente o modelo da equipe campeã do Mundial de 1981, com Adílio, Zico e Tita. É isso que acontece.

Um comentário:

  1. posso arriscar que isso aconteceu depois de você voltar do Rio Anil? *_*

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