terça-feira, 22 de junho de 2010

O relojoeiro com a vista perfeita, ou sei lá o quê

Bem, Larisse, se você não acredita mais em mim, a única saída é continuar sendo o que eu sempre tentei ser: um ator com múltiplos papéis. Mas como em Henrique IV, de Pirandello, a máscara estava pegada à cara, de propósito. Não sei ser o que posso ser, mas sou o tempo todo os trejeitos de um possível personagem, que grita, pula, entra e sai do cenário malfeito, conta piadas de bom e mau gosto, e morre no final. Morrer no final é tão importante quanto viver durante ou nascer no início: pois essas são as chaves da vida de quem nasceu para não ser o que é. Todos somos ficção, todos somos personagens secundários de uma peça qualquer de Shakespeare; eu mesmo, um certo Luciano Leite da Silva sou, na verdade, o "Primeiro Caçador" que surge na cena I da "Megera Domada" e fala alguma coisa sobre um Carrilhão. Sou Luciano apenas por distração, e às vezes me canso; eu, que o tempo todo luto contra os meus diretores, roteiristas e contra-regras, só consigo entender o mundo como um teatro do tamanho do mundo - cuja falência sempre tem data e hora marcadas: hoje e agora.

Um comentário:

  1. Morrer no final ao atravessar a avenida é costume; ser Luciano é tradição! Viva o gordo!!!

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