sábado, 15 de maio de 2010

Edgar

“(...)Edgar realizou a viagem em setembro de 1992, deixando pra trás tudo que podia deixar. A lembrança que temos de Edgar é essa: o homem que acenava no saguão do aeroporto - que pode ser Cumbica, JFK, Heathrow - com um ar envergonhado e tímido de quem se despede pra sempre ou de quem sempre se despede. Imagino os inúmeros ensaios solitários que Edgar fez do aceno final, na frente do espelho. A despedida é um ato de coragem, de amor, de clareza, que busca sempre o futuro, o momento através do qual nega a si próprio: o momento do reencontro. Para Edgar, homem não muito satisfeito com a vida, despedir-se era um modo de existir. ‘Não tenho mais nada a fazer aqui’, dizia e ia-se, à francesa. Não ficou muito claro pra nós quem era Edgar. Sei apenas que pegou o avião e foi embora. Não nos telefona, nem manda emails ou cartões postais. Talvez ele se despeça de si mesmo um dia, e vá em busca do sentido da vida, mas ainda isso seria óbvio demais para ele.(...)”

Trecho do livro “Vida e Obra de Edgar Mensonge”, Companhia das Letras, 2010, R$ 34,99, pág 76.

Um comentário:

  1. Por um instante, apesar das aspas, pensei em vossuncê, fazendo acenos e aos gritos de adeus. Uma figura obtusa e correndo pelo saguão.

    ResponderExcluir