terça-feira, 13 de abril de 2010

Balada do amor abstrato

Margarida, quando penso em ti, eu penso em ti.
Margarida, quando penso em mim, eu penso em ti.
Margarida, quando eu penso em conceitos universais, como tempo, espaço, metafísica pós-kantiana, propriedades físico-químicas da água, eu penso, na verdade, em ti.
Margarida, quando penso em dormir, é pra estar contigo em sonhos nos quais, geralmente, eu sussurro ao teu ouvido: “Minha rainha, minha deusa, minha paz”.
Margarida, quando estou sozinho no quarto, à noite (em noites que duram semanas), a tua falta é tão real que eu penso em me matar.
Margarida, em ti o meu deserto deixa de ser deserto.
Margarida, eu li demais.
Margarida, eu esqueci tudo.
Margarida, minha voz está seca e meu olhar vazio, mas seca é a voz de quem ama e vazio é o olhar dos desventurados.
Margarida, a lua que há em teus olhos sempre me faz lembrar de certa vez em que quase me afoguei numa piscina, num domingo de há muito tempo, num domingo de há muito tempo, num domingo no qual eu ainda não te conhecia, e se eu morresse, nem saberias que eu tinha morrido, e não chorarias por mim, como eu choro por ti todas as noites, não pela tua morte: pela tua vida.
Margarida, eu escrevo poemas paradoxais, mas haverá algo mais paradoxal do que existir, ser poeta, ser louco, ser homem, te amar, Margarida? Tudo isso ao mesmo tempo?
Margarida, eu invoco teu poderoso nome perante as tempestades e perante a loucura, e assim me sinto a salvo.
Margarida.

3 comentários:

  1. "Onde está a Margarida, olê, olê olá!"

    Aparece logo, Margarida, antes que o homem atravesse a avenida e parta sem ti.




    (intertextualidade, hahaha)

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  2. O destino é curioso, meu jovem.
    Um dia a Margarida vai se cansar da trivialidade das pessoas comuns, e vai ser feliz nos braços de um alguém que apenas acompanha esperançoso as travessias que ela faz, talvez na esperança de que um dia, ela olhe algo além da faixa de pedestres.
    Ou não.
    Abraços!

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